Estadão

Crime em Araçatuba: familiares e amigos se despedem de vítimas

Um dia após o assalto a bancos que mergulhou Araçatuba (SP) no terror, moradores da cidade velavam as duas vítimas assassinadas pelos bandidos, em clima de comoção, na manhã desta terça-feira, 31. Renato Bortolucci, de 38 anos, foi baleado enquanto tentava filmar os bandidos – um refém e um dos membros da quadrilha também morreram durante a ação. Bortolucci deixa mulher, enteada e filha.

"Era destemido e ouso dizer que cometeu uma imprudência. Quando todos estavam fugindo dali, ele chegou mais perto para fazer imagens", afirmou o advogado Jair Moura, amigo da família. Segundo ele, a vítima estava em uma farmácia e se aproximou da praça para filmar a ação dos bandidos.

Moura negou a versão segundo a qual Renato teria levado a mulher para casa e voltou ao local do tiroteio. "A esposa dele estava no rancho da família, no rio Tietê, distante dali. Ela inclusive estava sem carro e esperando que ele fosse buscá-la, mas ele não apareceu", afirmou. "Quando ela conseguiu ir até a cidade, o corpo dele ainda estava no carro."

Ainda conforme o advogado, Renato foi visto pelos bandidos fazendo a filmagem e tentou dar ré, mas bateu em outro veículo. "Ele recebeu três tiros. Um projétil transpassou o corpo de um braço para o outro. O segundo atingiu a cabeça e o terceiro, o peito", relatou.

Amigo de infância da vítima, o empresário Patrício Malagoli conta que Bortolucci estava abrindo um segundo posto de abastecimento na cidade – ele era dono do Posto São João, um dos mais movimentados do centro. "O Renato trabalhou muitos anos na Bahia, conseguiu guardar dinheiro e, há cinco ou seis anos, abriu o posto. Era um empresário bem sucedido, estava investindo também em construção civil." Segundo o amigo, Bortolucci gostava de reunir os amigos e tinha acabado de reformar o rancho na prainha do Tietê. "Fazia churrasco toda semana para reunir a família, os amigos, as crianças. Ele deixou uma filha de 6 anos e a enteada de 12 anos".

<b> Pelas imagens, era ele em cima do carro branco , diz irmã</b>

O corpo do personal trainer Márcio Victor Possa da Silva, de 34 anos, foi velado no Memorial Laluce, onde será sepultado às 16 horas. Familiares, amigos e pessoas que frequentavam a academia de ginástica do jovem estavam reunidos no local. A irmã, Giovana Ferreira da Silva, contou que Márcio era um dos reféns que foram amarrados sobre veículos e transformados em escudo humano.

"Ainda não tivemos uma informação da polícia, ainda estamos um pouco no escuro. Mas pelas imagens que a gente viu, era ele em cima daquele carro branco. O corpo foi achado na praça, então a gente acha que ele caiu ou tentou fugir", disse. Segundo Giovana, o irmão foi morto com dez tiros. "Foi muita crueldade, uma coisa inimaginável".

Conforme seu relato, além de manter uma academia de ginástica, Márcio fazia eventos. "Ele retornava de um evento no Mariá (hotel da cidade) e passava de carro pela praça com duas amigas. Quando foram abordados, elas se deitaram e ele foi arrancado do carro e levado por eles. Elas estavam com medo e não conseguiram ver o que aconteceu. Só depois que acharam o corpo que a gente ficou sabendo que era ele."

De acordo com a jovem, o irmão vivia um bom momento. "Ele estava solteiro, tinha terminado um relacionamento há seis meses e voltou a morar com a família: eu, nosso outro irmão Guilherme, de 16 anos, e nossos pais. Ele estava feliz e animado, pois ia abrir uma loja de suplementos alimentares. Tão jovem, tinha completado 34 anos este mês. Vai ser difícil superar. Ainda precisamos de muitas respostas sobre o que aconteceu", disse.

No mega-assalto, um suposto criminoso foi morto em confronto com a polícia. O corpo dele permanece no Instituto Médico Legal (IML). Quatro pessoas foram internadas com ferimentos, entre elas o rapaz de 25 anos que passava de bicicleta e se aproximou de um explosivo deixado pelos assaltantes. O jovem foi internado na Santa Casa e teve os dois pés amputados. Nesta terça-feira, o hospital informou que ele passou por cirurgias para correção das áreas atingidas, mas não houve necessidade de amputar os dedos das mãos, que sofreram cortes profundos. Dos outros três feridos, um é morador da cidade e os outros – um casal – são suspeitos de participação nos assaltos e estão com escolta policial.

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