Quando a Polícia Federal bateu à porta da mansão de Wesley Batista para prendê-lo na manhã de 13 de setembro, seu primogênito, Wesley Batista Filho, tomou um susto. O tio, Joesley, que tocava os negócios da família em parceria com o pai, fora preso dias antes. A cúpula da JBS estava no cárcere. Subitamente, Wesley Filho deparou-se com uma situação inimaginável para seus 26 anos: ajudar a salvar o grupo da família.
O jovem executivo era a opção óbvia. Apesar da pouca idade, vinha sendo preparado havia sete anos para assumir, em algum momento, a gigante de alimentos. Acumulara cargos de chefia em quatro países. Era, de longe, o mais qualificado entre os jovens da terceira geração dos Batistas.
Para garantir controle sobre o grupo, Joesley e Wesley precisavam alçar alguém da família ao comando. Necessitavam de uma pessoa de confiança, que cumprisse decisões tomadas por eles e que acompanhasse detidamente todas as tensas reuniões que, numa crise severa, se sucederiam sem parar.
Até a crise se instalar na JBS, Wesley Filho fazia carreira distante da sede, como responsável pela divisão de bovinos nos EUA. A saída forçada do pai o catapultou ao comando da JBS na América do Sul e ao conselho de administração da empresa, uma das maiores companhias de alimentos do mundo.
Desde que assumiu as novas funções, segue rotina dura. Acorda às 4h e, não mais do que às 5h15, segue de carro para a sede da JBS, a 17 km da casa dos pais, no bairro paulistano do Jardim Europa, onde está temporariamente instalado. Às 6h, já está despachando. É um dos últimos a sair.
Sua personalidade e a relação com o trabalho espelham características do pai. Como Wesley Batista, dedica muito tempo à empresa. Também foge de badalações – ao contrário do tio Joesley. Casou cedo com a namorada da adolescência, com quem teve um filho. Veste-se de forma discreta – calça social e camisa de botões com iniciais grafadas no bolso compõem seu traje no dia a dia do escritório.
Participa intensamente da gestão do grupo. Não está, contudo, tocando a empresa. Há executivos que compartilham a gestão. Gilberto Tomazoni, diretor de operações do grupo, que passou pela gigante Sadia e foi contratado pelos irmãos Batista para expandir os negócios da JBS anos atrás, é mentor do herdeiro no Brasil.
Mas Wesley Filho é a voz – e os olhos – daqueles que estão na cadeia. Divide a missão de manter a família à frente da companhia com seu avô, José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, fundador do grupo que retornou à presidência da JBS em setembro passado, aos 84 anos. E tem a ajuda do primo Aguinaldo Gomes Ramos Filho, o Aguinaldinho, que também passou a compor o conselho da JBS.
No calor dos dias que sucederam a ida dos delatores ao cárcere, aventou-se colocar Wesley Filho logo na cadeira do pai. A rixa com o BNDES, dono de 20% da JBS, fez a família recuar. Seria mais fácil o banco aceitar o patriarca do que um jovem ainda desconhecido do mercado e pouco testado. Apesar do porte da JBS e de sua importância no mercado brasileiro, bancos, credores, pecuaristas e rivais da companhia no Brasil têm pouquíssimas referências do herdeiro.
Um concorrente, que falou sob reserva, questiona o pouco tempo de estrada para que o jovem já esteja à frente de uma operação tão grande – sob o comando do rapaz estão a Seara e todas as unidades de bovinos no Brasil. Procurado, Wesley Filho não quis conceder entrevista. A JBS não comentou.
Trajetória
Nascido em Brasília, Wesley Filho quase não viveu na capital federal. Foi mudando de casa conforme a JBS se expandia. Morou em Anápolis, Luziânia, Goiânia, Barra do Garças, Andradina e São Paulo. Chegou a viver com a família dentro de um frigorífico em Goiás. Parecia natural que entrasse logo no ramo familiar.
Aos 14 anos, porém, avisou que gostaria de estudar fora e escolheu a Suíça como destino. Queria aprender línguas e mudou-se para um internato na pequena Zouz – o Lyceum Alpinum, tradicional colégio reduto de bilionários a alguns quilômetros de St. Moritz. Lá, aprendeu a falar alemão e inglês e a arranhar o italiano por influência dos amigos mais próximos. Também engatou namoro com uma brasileira filha de amigos da família, que foi estudar no mesmo colégio.
Ao concluir o curso, em 2009, foi para os EUA morar com os pais e os irmãos mais novos, Yasmin e Henrique, que estavam no Colorado. Àquela altura, a JBS havia comprado a Swift, começando sua expansão internacional. Ao chegar em solo americano, inscreveu-se na faculdade de economia. Mas dedicava seu tempo de verdade aos bois, a mesma paixão do pai. Fez o curso de trainee da JBS, onde passava as tardes aprendendo a cortar gado – algo que o pai gostava de ensinar aos funcionários americanos.
A crise ainda passava longe da JBS, no auge dos planos de expansão. Ao voltar ao Brasil, um ano depois, Wesley Filho chegou a se matricular na Faap, mas não concluiu a faculdade de economia. Já engajado nos negócios da família, assumiu cargo de chefia no setor de exportações de carne para mercados asiáticos.
Exterior
A ascensão na empresa começaria pela América do Sul. Com 21 anos, recebeu a incumbência de cuidar dos negócios do grupo no Uruguai. Lá, a JBS possuía o frigorífico Canelones, comprado junto com a então rival brasileira Bertin. Era uma operação bem pequena para os padrões da JBS, mas suficiente para colocar à prova o talento do herdeiro. O resultado agradou e, cerca de um ano depois, Wesley Filho acumulou o comando do Paraguai.
Já havia convencido a namorada do colégio, com quem depois iria se casar, a mudar-se para Assunção quando recebeu a notícia de que teria de ir para o Canadá. Rumou para Calgary, cidade que abrigava uma problemática processadora de carne comprada pela JBS. Por lá ficou, até ser recrutado de volta para os Estados Unidos.
Viveu de perto o melhor momento da JBS, em que a empresa se tornava a maior processadora de proteína animal do mundo. Fora do País, ficou blindado dos problemas que começavam a se avizinhar sobre os negócios da família, que desde 2016 virou alvo de investigações e batidas policiais em série. Parecia talhado a tocar a vida lá fora, para onde a própria JBS achou que iria se mudar antes de a crise da delação dos Batistas se abater sobre os negócios, e seguir a carreira executiva rumo ao topo da empresa. Com o conglomerado sob ataque, foi forçado a acelerar os planos. Tem o desafio agora de ajudar a manter a JBS viva – e nas mãos dos Batistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.