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Crise afeta USP e curso precisa de docente emprestado

Escolas que sobrevivem com professores “emprestados” de outros câmpus, materiais de escritório comprados com verba de pesquisa, restrições para ir a congressos acadêmicos e até cursos sem docentes contratados. Esses são reflexos da crise financeira enfrentada pela Universidade de São Paulo (USP) e que afeta atividades acadêmicas na graduação e na pós. As soluções improvisadas são motivo de queixas dos alunos e de tensão entre reitoria e faculdades.

Desde o início de 2014, as contratações e a maior parte das obras da USP foram congeladas como medida para conter o aumento de gastos. Depois disso, a universidade contratou somente professores temporários – e se acumulam ofícios de departamentos pedindo novos concursos. O reitor Marco Antonio Zago defende que não há prejuízos significativos a ensino, pesquisa e extensão.

Mas Caio Henrique Oliveira não encontrou na USP aquilo que imaginava quando fez o vestibular. “Acreditei que teria uma estrutura melhor”, diz ele, de 21 anos, aluno do 3.º ano da Engenharia Ambiental da USP Lorena. Na unidade, faltam professores para o curso de Oliveira, e também para as Engenharias Física e de Produção. As três foram criadas em 2011.

Agora que as primeiras turmas chegam à parte profissionalizante desses cursos, o problema se agrava. A USP Lorena “pega emprestado” docentes de outras faculdades, como a Escola Politécnica, e até de outras instituições, em cidades próximas. A diretoria diz que faz o possível e estima que são necessários ao menos mais 15 professores.

A falta de espaços e de equipamentos para cada uma das áreas é outra dor de cabeça. “Acho que haveria mais aulas práticas se tivéssemos mais laboratórios”, afirma Oliveira. Para ajudar, a escola receberá kits didáticos de outra unidade.

Já na habilitação de Coreano da graduação em Letras, em São Paulo, o quadro de docentes ainda não saiu do zero. O curso existe desde 2013, mas até hoje não há professor concursado, e a saída é improvisada. “Tivemos aulas com uma professora visitante”, conta a aluna Laura Torelli, de 22 anos. Essa docente não é paga pela USP, mas cedida por uma fundação da Coreia do Sul, que tem convênio com a faculdade. A previsão era contratar dois professores da área em 2014, mas a crise fez com que o edital fosse suspenso.

“Quero fazer iniciação científica, mas dificulta não ter professor concursado na área para me orientar no projeto”, lamenta Laura, no 2.º ano. Segundo Antônio Bezerra, que coordena a habilitação, “há sério risco de não abrir nova turma no próximo ano”. Estudantes que já estão na habilitação temem não conseguir terminar o curso.

Lacunas

Mesmo graduações antigas sofrem com os cofres vazios. O centro acadêmico (CA) da Terapia Ocupacional publicou neste mês um protesto nas redes sociais. A principal queixa é sobre a perda de docentes. Dos 15 do curso, uma já se aposentou e outra sai até setembro.

Segundo Mariana Lima, uma das diretoras do CA, o prejuízo com as aposentadorias será a não oferta de três matérias obrigatórias neste ano. “Quem está no 2.º ou no 1.º ano não se forma sem essas disciplinas”, aponta ela, de 21 anos. Para veteranos, o problema é na supervisão de estágios nos campos das docentes que estão de saída.

O centro acadêmico pretende circular um abaixo-assinado entre os colegas sobre essa questão. O departamento da área informou que a reitoria ofereceu docentes temporários em resposta ao pedido de reposição.

Em algumas graduações, há também queixas de queda nas verbas repassadas pela reitoria para que estudantes participem de congressos e seminários acadêmicos no País. Viagens de campo também se adaptam ao novo cenário – alguns cursos cortaram a fase preparatória.

A reitoria não informou se reduziu os recursos para esse tipo de atividade. Desde 2014, foi cancelado o programa que dava verba para participar de eventos acadêmicos no exterior.

Pós

Mestrados e doutorados também não escapam da crise. A Faculdade de Zootecnia e de Engenharia de Alimentos de Pirassununga, por exemplo, restringiu a participação em eventos fora do Estado. E, nas bancas para avaliar pós-graduandos, são chamados só docentes de instituições paulistas, para baratear os custos do convite.

O aperto nas contas afeta até as atividades corriqueiras. “Falta material básico de papelaria. Às vezes, pegamos dinheiro da pesquisa para comprar cola ou tinta de impressora e não parar o trabalho”, conta Walter Neves, que coordena o Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto de Biociências (IB). “Isso é imoral.”

A verba da pesquisa costuma não vir da USP, mas de agências de fomento. “E, além da restrição orçamentária, há uma burocracia que não funciona”, critica. A diretoria do IB não falou sobre a falta de materiais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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