As enchentes de março de 2019 e as altas temperaturas que vêm afetando a safra de grãos têm virado a cabeça dos agricultores de Iowa, Estado americano que deu ontem o pontapé inicial na temporada de primárias que definirão o rival de Donald Trump na eleição presidencial de novembro. O setor rural, que sempre foi refratário ao tema, começa a mudar de opinião e o aquecimento global ganhou força na campanha nacional do Partido Democrata.
Em 2008, segundo pesquisa do instituto Pew, apenas 1% dos americanos diziam que a crise climática estava no topo dos problemas do país. Em 2013, o porcentual já era de 40% e, no ano passado, chegou a 57% – um aumento puxado por eleitores democratas, segundo o instituto. Como a economia de Iowa gira entorno do agronegócio, o assunto começou a ser levado a sério pelos produtores locais.
Ontem, passava pouco das 17 horas em Des Moines, maior cidade do Estado, quando Joe Biden subiu ao palco para seu último comício antes da votação. A plateia vibrava com as críticas a Trump em um ginásio lotado quando um grito o interrompeu: "Pare de receber dinheiro de combustíveis fósseis". A ativista foi retirada por seguranças, mas a cena vem se repetindo na campanha democrata, cujo eleitorado cobra cada vez mais o uso de energia limpa.
Todos os pré-candidatos democratas colocaram no topo de suas campanhas a preocupação com a crise climática. No segundo semestre de 2019, eles participaram de um debate para discutir apenas políticas de desenvolvimento sustentável.
<b>Enchentes</b>
As propostas passam pelo apoio ao "Green New Deal", plano ambicioso de eliminar a poluição e adotar energia renovável até 2050, e pelo compromisso em recolocar os EUA nos acordos climáticos de Paris – engavetados pela Casa Branca.
Em Iowa, a crise climática entrou de vez no radar dos produtores rurais após as fortes chuvas que fizeram os rios Mississippi e Missouri transbordarem. De maneira cirúrgica, os democratas passaram a prometer programas de incentivo à proteção climática direcionados especificamente a fazendeiros e agências de pesquisa agrícola.
Rachell Corell vive em Council Bluffs, na divisa com Nebraska, às margens do Rio Missouri. Ela diz que não sofreu com as enchentes, mas amigos viveram experiências trágicas. "Um colega de trabalho do meu marido precisou sair do apartamento térreo que ficou alagado", disse. Vídeos e fotos de março de 2019 mostram ruas e fazendas alagadas, trechos de rodovias fechados e os silos destruídos. As perdas foram estimadas em US$ 30 milhões.
Em outubro, a Agência Oceânica e Atmosférica Nacional registrou que 2019 foi o ano mais úmido de que se tem notícia. Fazendeiros reclamaram que não conseguiram plantar em 19 milhões de acres, sendo boa parte em regiões cobertas pela água.
Em 2018, um estudo da Universidade Estadual de Iowa apontou que o aumento das chuvas estava entre as principais preocupações dos fazendeiros. O professor de agronomia Andy VanLoocke diz que em três dos últimos quatro anos as safras foram atrasadas em razão das chuvas. Segundo o Iowa Flood Center, as mudanças climáticas são responsáveis pelo aumento da temperatura e pelas precipitações acima da média.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>