Por dois sábados e domingos, cavalo nenhum correu no Jockey Club de São Paulo, quebrando uma tradição de 140 anos. Dos 370 funcionários, 250 estavam em greve. O motivo, quatro meses de salários atrasados, escancarou mais uma vez a crise financeira que acomete a instituição desde a última década do século passado.
A paralisação dos funcionários durou do dia 19 até a noite de quarta. “Foi suspensa, mas vamos retomá-la a qualquer momento, se o acordo não for cumprido”, promete Ricardo Mauricio Camargo, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Hípicos no Estado de São Paulo. Por acordo, entende-se o pagamento, em datas combinadas até o fim deste mês, dos valores pendentes de novembro e dezembro, a fixação de prazos e o cumprimento do pagamento do restante em abril.
“Eles estão no direito deles. Compreendo perfeitamente”, afirmou ao Estado o presidente do Jockey, Eduardo da Rocha Azevedo. Ex-presidente da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e fundador da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o empresário assumiu a administração do clube em 2011 com a promessa de colocar em prática uma rígida gestão financeira. A um ano de concluir seu segundo e último mandato, considera que, a despeito dos problemas, tem sido bem-sucedido.
“Não fosse o nosso trabalho, a dívida do Jockey hoje estaria na casa dos R$ 600 milhões. Conseguimos reduzir para R$ 200 milhões, que é bem menos do que o nosso patrimônio.”
Na sua gestão, foi vendida a antiga sede social do clube, no centro – um edifício de 16 andares, arrematado por R$ 90 milhões. Azevedo sonha em conseguir que os sócios aprovem, em assembleia, a venda de outros imóveis do clube, principalmente o Hipódromo de Campinas. “Uma área de 380 mil metros quadrados, às margens da Anhanguera, e só dá prejuízo.”
O cenário de crise econômica começou a ser escancarado em 1995, com impostos pendentes, taxas em débito, contas que não fechavam mais. E pouco mudou, segundo o próprio presidente. “Atualmente, a corrida de cavalo é deficitária, não só aqui, mas em todo o Brasil. Trata-se de um esporte que está em baixa, as pessoas perderam interesse nas apostas”, afirma. “O turfe dá prejuízo de R$ 18 milhões por ano ao Jockey.”
A planilha dos associados é outro problema. São 1 mil pagantes (R$ 495 por mês) e 900 isentos. “É muito mais frequentado por jubilados do que por pagantes”, afirma o presidente. O título do Jockey custa R$ 5 mil, mas há uma taxa de transferência de R$ 25 mil. A inadimplência está na casa dos 8%. São R$ 6 milhões por ano de arrecadação via associado. Para a atual administração, interessante mesmo é explorar o espaço com eventos. A expectativa orçamentária de 2015 era arrecadar R$ 15 milhões com isso. Por uma série de entraves burocráticos e embargos,
conseguiram R$ 2 milhões. “Tudo isso foi nos sufocando”, comenta Azevedo.
A meta é enxugar mais os gastos. Para isso, o presidente quer diminuir o número de funcionários para cerca de 200. Já foram mais de mil. Além disso, quer promover, o mais rápido possível, um leilão de obras de arte, mobiliários, talheres e afins, com o objetivo de sanar as despesas mais imediatas. A ideia é aprovar isso em assembleia ainda neste mês. Entre funcionários, comenta-se que a expectativa é de que o pregão obtenha de R$ 5 milhões a R$ 8 milhões. A administração evita falar em números.
Aos associados.
Em comunicado enviado pela presidência aos associados no mês passado, além dos débitos salariais com funcionários, informou-se uma dívida de R$ 9 milhões na quitação de prêmios a proprietários e criadores, “além de débitos crônicos com prestadores de serviços, provedores de água, luz e telefonia, fornecedores, e impostos correntes”. “Um quadro de colapso iminente, praticamente insolúvel, que só terá chance de superação por meio do comprometimento e da firme participação dos associados do clube”, frisou o documento.
“Na maioria dos clubes, o sócio é jubilado aos 50 anos de contribuição; quando tem 75 de idade. Aqui, tem jubilado de 40 anos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.