O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, disse nesta quinta-feira, 12, que uma das razões para a crise política e econômica por que passa o País é provocada pela desmoralização das instituições partidárias e pelos interesses financeiros de “boa parte dos políticos”.
“Nós assistimos, nos últimos tempos, de maneira quase que cotidiana, a uma guerra de foice entre grupos políticos que, a meu ver, deixa claro o que realmente é prioridade ao chamado estamento político do país. O que interessa para boa parte desse estamento político é uma única coisa: dinheiro”, disse, durante a 16ª Convenção Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Conescap), realizada no Recife.
Para o ex-ministro do Supremo, apesar de contarem com a “bagatela de quase R$ 1 bilhão, por ano, do fundo partidário”, os partidos não estão satisfeitos “com todo esse dinheiro e querem mais”. “Eles querem também o dinheiro das empresas para dar continuidade a essa relação de promiscuidade que existe entre certos políticos e certas empresas. Não são todas, é claro”, ressaltou Barbosa
A palestra foi proferida horas depois de, por unanimidade, o Supremo considerar inconstitucional o dispositivo aprovado recentemente pelo Congresso que permitia a ocultação de doações feitas indiretamente a candidatos, por intermédio dos partidos.
Apesar do descontentamento de parcela da sociedade e da oposição com o rumo das políticas públicas conduzidas pelo Planalto, Barbosa avaliou que não cabe ao STF corrigir eventuais erros da classe política. “O Judiciário não é remédio contra as escolhas políticas ruins feitas por nós, cidadãos, ou pelos nossos representantes. Não faz parte do papel do Poder Judiciário corrigir políticas públicas nas quais não concordamos, ainda que elas sejam ruins”, disse.
Barbosa também condenou a aprovação do projeto de repatriação dos recursos mantidos por brasileiros no exterior, aprovado na quarta-feira, 11, pela Câmara, com apoio do governo federal. A iniciativa é parte do pacote fiscal apresentado pelo Planalto.
Para o ex-presidente do STF, boa parte dos recursos é de “origem duvidosa e preocupante”, e o que chama a atenção é a amplitude de interesses pela aprovação da matéria. “Não deixa dúvida que essa medida é apoiada pelo governo de maneira irresponsável e sem medir as consequências”, criticou.