A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, deixou Taiwan nesta quarta-feira, 3. A visita agravou a crise entre Washington e Pequim. Agora, o governo taiwanês se prepara para a resposta da China, que prometeu realizar nesta quinta, 4, exercícios militares inéditos com munição real. Durante as manobras, forças chinesas cercarão a ilha e lançarão mísseis que devem cair a apenas 16 quilômetros do litoral.
Pelosi teve uma recepção calorosa na capital Taipei. Após semanas de silêncio, ela foi tudo menos discreta durante as reuniões, nas quais ofereceu apoio a Taiwan, enfureceu o governo da China e complicou ainda mais as relações entre as duas maiores economias do planeta.
<b>Crise</b>
A visita ganhou apoio em Washington, incluindo de republicanos. Em Taiwan, porém, ela deixou uma nova crise. Nem bem o avião de Pelosi havia decolado e o governo taiwanês começou a se preparar para os exercícios militares de hoje, que marcam um desafio direto à soberania da ilha. As coordenadas das manobras indicam que elas ocorrerão mais perto do que os testes anteriores.
Além dos exercícios militares, uma série de ataques de hackers chineses já começaram a atingir os sites do governo taiwanês. A China também usou seu status de maior parceiro comercial de Taiwan para retaliar, anunciando novas restrições comerciais, incluindo a suspensão das importações de algumas frutas, de peixes e a proibição das exportações de areia, material fundamental para o setor de construção civil da ilha.
<b>Compromisso</b>
"Hoje o mundo enfrenta uma escolha entre democracia e autocracia", disse Pelosi durante reunião com a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen. "A determinação dos EUA de preservar a democracia em Taiwan e em todo o mundo permanece inabalável."
As reuniões de Pelosi em Taipei, embora leves em substância, foram recebidas em Taiwan como uma vitória simbólica. A viagem foi um momento raro em que uma grande potência estrangeira mostrou publicamente apoio à ilha diante da firme oposição da China.
Pelosi foi o membro de mais alto escalão do governo dos EUA a visitar a ilha em 25 anos – a última visita de um americano em posição de comando foi quando o deputado republicano Newt Gingrich, então presidente da Câmara, esteve em Taipei, em 1997.
<b>Reações</b>
A porta-voz da chancelaria chinesa, Hua Chunying, disse ontem que mais represálias resultariam da visita de Pelosi, tanto para os EUA quanto para Taiwan. "Quanto a contramedidas específicas, o que posso dizer é que elas incluirão tudo o que deveria ser incluído", disse Hua. "As ações serão firmes, vigorosas e eficazes. Ao lado dos EUA, as forças de independência de Taiwan continuarão sentindo-as."
Em seu giro asiático, Pelosi passou por Malásia e Cingapura, antes de Taiwan. Ontem, ela chegou à Coreia do Sul e deve visitar ainda o Japão. Analistas apontam para o risco de a viagem prejudicar o esforço diplomático da Casa Branca para construir uma coalizão regional contra a China – muitos aliados dos EUA na Ásia poderiam se sentir marginalizados e frustrados com as tensões crescentes.
Outra ressaca da viagem tem relação com o Kremlin. Pelosi foi a Taiwan no momento em que os EUA tentam evitar que a China ajude a Rússia na guerra da Ucrânia. Ontem, o chanceler russo, Serguei Lavrov, colocou lenha na fogueira ao dizer que a crise taiwanesa é igual à ucraniana. Segundo ele, a culpa de um eventual invasão da ilha, assim como ocorreu na Ucrânia, será do Ocidente. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>