O presidente argentino, Mauricio Macri, defendeu nesta quinta-feira, 30, que o Mercosul e a Aliança do Pacífico, formada por Chile, Peru, Colômbia e México, componham uma área de livre comércio, mas ressaltou que para isso o Brasil precisa voltar à normalidade o quanto antes.
No papel de observador convidado para a cúpula do bloco na cidade chilena de Puerto Varas, ele se referia ao processo de impeachment que levou ao afastamento de Dilma Rousseff e à interinidade de Michel Temer.
“O Brasil tem de encaminhar sua situação o quanto antes para que se consiga avançar nos acordos do Mercosul com a Aliança do Pacífico”, disse a jornalistas, antes de fazer seu discurso. Uruguai e Paraguai já tinham o status de observador do bloco, situação que a Argentina obteve este ano.
Em declarações reproduzidas por canais de televisão e jornais argentinos, o argentino opinou que o Mercosul “vem congelado há muito tempo e os dois blocos precisam convergir no futuro para um acordo de livre comércio”. O chanceler uruguaio Rodolfo Nin Novoa afirmou ao jornal argentino La Nación que o objetivo do Mercosul é avançar num pacto desse tipo. Ele sugere que o Paraguai coordene esse processo.
A Aliança do Pacífico foi criada em 2011 como mecanismo de integração econômica aberto ao livre comércio. Cerca de 90% dos produtos dos países circulam com tarifa zero e a região concentra 41% do investimento estrangeiro na América Latina.
Na avaliação do economista-chefe do Instituto Argentino de Economistas de Finanças, Alfredo Gutiérrez Girault, o processo de integração dos blocos tende a ser longo. Ele vê correção de rumo na economia brasileira que poderia indicar a estabilidade desejada por Macri, e não acredita que o presidente argentino esteja substituindo a liderança brasileira no Mercosul. “A vantagem de se aproximar dos países é que eles são trampolins para os mais dinâmicos no mundo. Se os asiáticos crescem 6%, vale a pena a parceria.” Segundo o FMI, o Peru crescerá este ano 3,7%, a Colômbia, 2,5%, o México, 2,4%, e o Chile, 1,5%.
Em visita a Buenos Aires em maio, o chanceler José Serra (PSDB-SP) defendeu a flexibilização do Mercosul, uma união aduaneira, para que seus integrantes pudessem negociar parcerias com mais autonomia. Após deixar a Argentina, sua sugestão foi rejeitada por sua colega argentina Susana Malcorra, que considerou “no mínimo inoportuno” abrir mão de agir em bloco em meio a uma discussão de um acordo com a União Europeia. Em relação à necessidade de aproximação com a Aliança do Pacífico, os vizinhos têm demonstrado sintonia.
A situação no Brasil foi um dos fatores que levaram ao cancelamento da reunião de presidentes do Mercosul marcada para o dia 12 em Montevidéu. O principal, entretanto, é a instabilidade na Venezuela, que faz o Paraguai ser contra a obediência do rodízio que deveria dar a Caracas a presidência semestral do bloco. O Uruguai quer passar o bastão assim mesmo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.