A crise política foi um balde de água fria para o setor real da economia. Projetos que começavam a ser desengavetados pela retomada da atividade que estava se desenhando voltaram para a gaveta, à espera de qual será o encaminhamento das reformas. Enquanto isso, analistas começam a calcular as prováveis perdas no dia a dia das empresas e nos diversos setores.
Economistas já estão cortando as projeções de crescimento da economia este ano e no próximo. As estimativas preliminares sinalizam perdas para a atividade em 2017 entre R$ 25 bilhões, no cenário mais otimista, e R$ 170 bilhões, no mais pessimista, na comparação com que se esperava antes das denúncias envolvendo o presidente Michel Temer. É consenso entre os especialistas ouvidos pelo Broadcast/Estadão que o tamanho do estrago vai depender da duração da turbulência em Brasília e do desfecho da reforma da Previdência.
Aos olhos dos investidores internacionais, o Brasil ficou mais arriscado, o que pode ser percebido na forte alta nas taxas do CDS (Credit Default Swap), uma espécie de seguro de crédito contra calotes. Esse papel chegou, no pior momento, a subir mais de 30%. Ontem, estava em 240 pontos base, alta de 21% comparado a um dia antes da delação da JBS.
Risco. A crise também acendeu o sinal de alerta nas agências de classificação de risco. A Standard & Poors (S&P) já colocou o País em observação para possível rebaixamento da nota soberana, por causa das “dinâmicas políticas mais estressadas”, que podem afetar as reformas e o PIB. Ontem, a Moodys alterou ontem a perspectiva do rating brasileiro de “estável” para “negativa”, indicando que aumentou a chance de a nota ser rebaixada (ver box).
Os primeiros impactos da crise apareceram nos indicadores financeiros. Em apenas uma semana, as empresas brasileiras perderam R$ 161 bilhões em valor de mercado, segundo a Economática. Já as companhias com dívidas em dólar viram seus passivos aumentarem em R$ 7,2 bilhões. É claro que estes números podem ser revertidos se a situação se resolver, mas a deterioração do cenário econômico por causa da turbulência política já fez empresas adiarem planos de captação de recursos. A Log Commercial, do setor de logística e controlada pela MRV Engenharia, e a Ser Educacional, por exemplo, desistiram de ofertas de ações. Por sua vez, o IRB Brasil Re decidiu adiar sua aguardada abertura de capital.
A paralisia nas empresas já sinaliza impacto negativo para o PIB. A LCA Consultores acha pouco provável a manutenção da sua estimativa inicial de um crescimento de 0,9% este ano. O economista Francisco Pessoa Faria acredita que o mais provável é que a crise tenha um impacto de 0,4 ponto porcentual no PIB deste ano, trazendo a expansão para 0,5% e ocasionando perdas de R$ 25 bilhões, em um cenário mais favorável. Em um caso mais adverso e menos factível, a consultoria estima uma retração de 1,1% no PIB, com uma perda de R$ 127 bilhões. “Ainda existe muita fragilidade em todas as projeções, porque a conjuntura é muito incerta”, pondera.