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Crise? Qual das crises?

Todos estão cansados de ler, ouvir e comentar que o Brasil está mergulhado numa policrise. Crise econômica, crise política, crise de confiança e de credibilidade, crise moral. Isso pode abater o ânimo do brasileiro, que sempre achou "jeitinho" para tudo e que agora sente a aproximação de dias terríveis.
 
Qual a reação nesse momento?
 
Existem aqueles que não tomam conhecimento. Acreditam que já passamos por estágios tão graves e os superamos. Há os derrotistas, que se entregam ao desalento e contaminam sua rotina de um catastrofismo indutor de somatização de graves enfermidades. Mas também existem aqueles que procuram encontrar alternativa para atravessar a borrasca.
 
Uma coisa é certa: não é "marolinha" o que o Brasil enfrenta. É mais para "tsunami" do que para garoa. Quem não enxerga as lojas fechando, os imóveis postos a aluguel tendo de baixar suas expectativas de renda ante uma deflação brava? Quem não se comove com a fila do desemprego, a única a crescer no País? E a construção civil ainda nem começou a sua despedida em massa. É questão de tempo.
Nesse estágio mais do que preocupante, é preciso garantir a sensatez e a serenidade. Respirar fundo. Cuidar da saúde. Não abandonar os exercícios físicos. Atentar para a alimentação saudável. E também procurar um pouco de sonho.
 
Pobre de quem só enxerga problemas à sua volta. Isso é muito comum para quem considera o trabalho um castigo: "ganharás o pão com o suor do seu rosto". Mas para quem gosta do que faz, o trabalho é diversão. 
 
Isso é o que leva o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a despeito de todas as dificuldades, a manter acesa a chama da arte, da cultura, da música, da poesia e investir no projeto "Arte e Cultura no TJ", hoje disseminado por todo o interior.
 
A magia não pode desaparecer do cenário que já é triste. Aqueles momentos de boa música, de dança, de teatro, constituem lenitivo para quem só teria a rotina de um trabalho árduo, burocrático as mais das vezes, incompreendido e constantemente sob ameaça. 
 
Pobre de quem não compreende o alcance de uma iniciativa que só pretende oferecer aos integrantes de um conglomerado encarregado de cuidar da miséria humana – basta adentrar ao mundo das traições, da falta de caráter, do descumprimento das obrigações, do fingimento e da falsidade, ingredientes naturais de todo processo judicial – uma janela para o sonho. Quem participa e vibra com o projeto, tira proveito dele: sou testemunha disso. Quem o não compreende continuará no seu mundinho de formalismos, de acanhada concepção do mundo e vai curtir as crises com os próprios talentos. O mundo plural reserva espaço para todos.
 
José Renato Nalini é presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo
 

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