Mundo das Palavras

Cristicchi somos nós?

Quando pessoas escrevem, usam mãos, inteligência, sensibilidade, interesses, memória, vivência, além de outras características e habilidades suas. Assim não produzem um texto, apenas. Na verdade, fazem algo espetacular. Transportam-se, elas próprias – com tudo o que as definem como criaturas humanas – para o papel, para o monitor do computador. Por isto, encontrar os próprios sentimentos num texto escrito por outra pessoa é uma experiência emocionante. Capaz não só de despertar curiosidade, como ainda admiração por quem demonstrou compreendê-los e conseguiu expressá-los.   
 
Poucos brasileiros conhecem Simone Cristicchi. Não surpreende. Deixou de existir a intensa troca de influências entre artistas brasileiros e italianos, do passado. Quando Rita Pavone excursionou com “Os Incríveis” e namorou Netinho, baterista do conjunto. Roberto Carlos venceu o Festival de San Remo, com “Canzone per te”, de Sérgio Endrigo. Compositor que, por sua vez, foi parceiro de Vinicius de Moraes em “La casa”. E gravou “A Rosa”, ao lado de Chico Buarque – autor da versão de “Gesù Bambino”, de Lucio Dalla, para a língua portuguesa. 
No entanto, as letras de músicas de Cristicchi estão na internet. Qualquer um pode observar se despertam identificação com ele.  
 
Em “Meno male”, ele tratou da instável situação mundial, de 2011. “Há avalanche de más notícias. Há uma crise global que está avançando”. Acrescentou: “Mas, graças a Deus, existe Carla Bruni”. Numa referência irônica e amargurada à modelo, cantora, então, primeira-dama da França. 
 
Em “La Cosa Più Bella Del Mondo”, Cristicchi tentou expressar o deslumbramento trazido pela paternidade. “De beleza, eu não sei como me defender”, começou. “Quando dentro de mim vi um imenso vazio crescer, um arco-íris parecia que ia  explodir. E então eu vi você, a coisa mais linda do mundo”. Continuou: “Seu sorriso é uma linda paisagem onde eu gosto de me perder. De me perder, com você. A maior coisa do mundo. Para mim. Talvez eu não mereça tanto”. Por fim, animou o filho: “Não se sinta perdido. É só a vida. E o amor que nos atravessa todos os dias. Você sempre me encontrará ao seu lado. Eu prometo a você”.
 
“Ti Regalerò Una Rosa” Cristicchi escreveu comovido com o abandono dos loucos nos hospícios: “Os loucos são pontos de interrogação, sem sentença. Milhares de naves espaciais, que não retornam à base. Eles são bonecos de pano, deitados para secar, ao sol. Os loucos são apóstolos, de um Deus que não os quer.”
 
Na adolescência, Cristicchi ouvia Chico Buarque e Caetano Veloso, ele revela em seu site. Junto com Pink Floyd. No site, faz outra revelação. Ao explicar sua música “Um samba”: “Caminhando pela Via Tuscolana, percebi que há mais restaurantes chineses do que trattorias. Senti uma espécie de saudade brasilera. Por uma Roma que não vivi”.
 
 

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