A presidente Cristina Kirchner usou a cadeia nacional nesta quarta-feira para anunciar um aumento de 12,49% aos aposentados e defender o número 2 de seu governo, alvo de denúncia de envolvimento com o narcotráfico.
O chefe de gabinete Aníbal Fernández foi acusado no domingo de lucrar com a venda de efedrina e de ser o mandante de um triplo homicídio. A afirmação partiu de um dos condenados pelo crime, entrevistado pelo jornalista Jorge Lanata no programa Periodismo para Todos. O preso, Martín Lanatta, disse que o então ministro de Segurança e Justiça recebeu dele US$ 5 milhões provenientes da venda da droga sintética, usada na fabricação de êxtase.
Fernández reagiu contra o próprio partido. Atribuiu a denúncia a seus rivais kirchneristas na primária de domingo, quando participa como pré-candidato ao governo Província de Buenos Aires, onde estão 37% dos eleitores do país. Seu adversário é Julián Domínguez, presidente da Câmara dos Deputados. O vencedor da interna é o favorito para substituir no posto a Daniel Scioli, único candidato governista à presidência.
“Se alguém de outro partido estivesse por trás da acusação, ela teria aparecido depois das prévias”, disse o ministro, que logo após o episódio acusou os rivais de “comprar droga” e financiar “uma armação” contra ele. Domínguez, um azarão na disputa, tentou uma aproximação. “Quem ganha com essa briga é a oposição”, afirmou. A rixa entre os dois levou Scioli a cancelar a ida ao comício final de ambos.
Cristina, que não falava em público há duas semanas, segundo médicos em razão de uma laringite, chamou todos os ministros e líderes do partido à Casa Rosada. Exaltou primeiro o aumento aos aposentados, confirmado a quatro dias da primária e que passará a vigorar em 1.º de setembro – a eleição ocorre em 25 de outubro. O reajuste beneficiará 20% da população. Este ano, o governo transformou em bianual o aumento no programa equivalente ao Bolsa Família e subiu em 28,5% o salário mínimo – a inflação no país é de 27% segundo levantamento da oposição no Congresso.
Cristina deixou a defesa a Fernández para o fim de seu discurso. Considerou a denúncia uma iniciativa antidemocrática “que tem se tornado comum na América Latina” e é composta por um trio: imprensa, opositores de centro-direita e Judiciário. Ela aconselhou seus aliados a não se preocupar, pois “a única absolvição que importa é a do povo e a da história”. “Não tenho medo de nenhum juiz pistoleiro, mafioso ou de extorsão”, afirmou, justificando por que não se candidatou a um cargo para garantir imunidade.
A fachada do prédio do autor da reportagem, Jorge Lanata, foi apedrejada depois da reportagem e projéteis de bala foram encontrados no entorno. O jornalista denunciou uma tentativa de intimidação, mas a Polícia Federal concluiu que os danos foram causados por uma briga entre indigentes. (correspondente do jornal O Estado de S.Paulo)