O presidente Jair Bolsonaro passou a enfrentar mais desgaste político neste fim de ano ao manter a folga em São Francisco do Sul, litoral de Santa Catarina, enquanto milhares de pessoas sofrem as consequências das fortes chuvas que assolam a Bahia. O dano à sua imagem ficou caracterizado nas críticas públicas que recebeu e na hashtag "BolsonaroVagabundo" – que chegou ao primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter.
Diante da repercussão negativa na rede social, território de grande atenção do presidente e seu núcleo mais próximo, Bolsonaro disse que esperava não ter de deixar a região praiana. "Espero que eu não tenha que retornar antes", afirmou Bolsonaro em conversa com apoiadores.
O chefe do Executivo embarcou anteontem para São Francisco do Sul com a primeira-dama, Michelle, e a filha Laura, de 11 anos, e só planeja retornar à capital federal no dia 3 de janeiro. É o segundo período de folga de Bolsonaro neste mês. Ontem, o presidente aproveitou o d ia ensolarado para um passeio de moto aquática com Laura. Internautas publicaram as fotos de Bolsonaro no veículo ao lado de imagens de áreas inundadas.
Entre os dias 17 e 23, o presidente esteve no Guarujá, litoral de São Paulo, onde também passeou de moto aquática e de barco. Na ocasião, foi filmado dançando funk em uma lancha.
<b>CHUVAS</b>
Desde a quinta-feira da semana passada, a Bahia vive uma nova rodada de chuva intensas que já deixaram ao menos 20 pessoas mortas, 31.405 desabrigadas, 31.391 desalojadas e 358 feridos. De acordo com a Defesa Civil do Estado, o número de municípios atingidos chegou a 116. As primeiras enchentes, no entanto, foram registradas entre novembro e dezembro. Bolsonaro chegou a sobrevoar regiões afetadas em 12 de dezembro, mas não planeja repetir o gesto.
Parlamentares já tradicionalmente críticos ao governo cobraram do chefe do Executivo a interrupção de seu período de descanso. "Enquanto nosso povo padece com fome, desemprego, alta de preços, epidemia, e, como na Bahia, com desastres naturais, Bolsonaro tirou férias! Sim! Omisso a tudo isso, achou merecer folga, como uma grande piada com o povo brasileiro. VAI TRABALHAR, Bolsonaro!", publicou no Twitter o senador Randolfe Rodrigues (Rede-RR).
"Não entendo as críticas ao Bolsonaro por ele estar de férias. Ele está fazendo a mesma coisa que faz quando não está de férias: NADA", ironizou o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP)
Bolsonaristas, por sua vez, agiram para tentar minimizar o desgaste, alegando que embora o presidente não acompanhasse fisicamente a emergência social no Nordeste, ministros estavam nas regiões afetadas, como João Roma (Cidadania), pré-candidato ao governo da Bahia, e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).
Durante a guerra de versões nas redes sociais, o assessor especial da Presidência Tercio Arnaud Tomaz compartilhou nas redes sociais notícias de 2010, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também teria enviado ministros para as enchentes de Angra dos Reis (RJ), em vez de comparecer pessoalmente. Tércio integra o chamado "gabinete do ódio", ala de assessores palacianos responsáveis por alimentar a tropa bolsonarista nas redes com conteúdo favorável ao governo. O grupo é coordenador pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho "02" do presidente.
<b>VERBA</b>
Em defesa de Bolsonaro, os governistas também destacam as medidas já anunciadas pelo Executivo na tentativa de conter os efeitos das enchentes. O presidente editou ontem medida provisória que destina R$ 200 milhões para recuperação de rodovias. Os recursos, porém, não vão apenas para a Bahia, mas também para outros quatro Estados: Amazonas, Minas Gerais, Pará e São Paulo.
Dos R$ 200 milhões, R$ 80 milhões serão destinados aos municípios baianos. "Não dão para recuperar as (estradas) da Bahia", disse o governador Rui Costa (PT). Rogério Marinho pediu mais tempo para que o governo possa dimensionar a quantidade de recursos que será necessária. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>