A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) acaba de tirar da gaveta a criação de uma empresa integrada de mineração. Com isso, sai do papel um desejo antigo de seu presidente, Benjamin Steinbruch, de reunir todos os ativos de mineração e logística sob o guarda-chuva de uma empresa. Batizada de Congonhas Minérios, a nova companhia pode ser desenhada após um longo período de discussões entre a CSN e seus sócios em uma de suas minas, a Namisa.
Para seguir em frente com os planos de reunir os ativos, a CSN precisou convencer a trade japonesa Itochu, mais as siderúrgicas japonesas JFE Steel, Kobe Steel e Nisshin Steel, a sul-coreana Posco e a taiwanesa China Steel, a ingressarem na nova companhia com os 40% que adquiriram da Namisa, em 2008. As discussões, segundo fontes, não foram fáceis diante de muitas discordâncias em relação ao negócio. Como o contrato assinado entre as partes previa uma opção de venda (put), o consórcio asiático estudava a possibilidade de exercer o seu direito e sair do investimento. A gigante Nippon Steel, que já foi sócia da Namisa, já havia saído do negócio em 2011.
Outro ponto que teria prolongado as negociações seria a preocupação do consórcio com o fato de que sua participação seria diluída, caso aceitasse a união dos ativos em uma única empresa. No entanto, foi exatamente o que aconteceu. Na nova empresa, a CSN deterá uma fatia de 88,25% e o consórcio asiático de 11,75%. No entanto essas participações podem ser alteradas até o fechamento do negócio, que está previsto para ocorrer no fim do próximo ano.
A associação já tinha sido divulgada pela companhia brasileira em breve comunicado no fim de novembro, mas a operação não foi detalhada. O Brasil Plural analisou que o tamanho da fatia do consórcio surpreendeu. “A expectativa do mercado era de que a fatia do consórcio ficasse entre 15% e 20%”, destaca. No entanto, o documento do Brasil Plural levanta alguns pontos que geram ceticismo, como a não-contabilização da dívida ou caixa na nova empresa. “A Namisa tem um caixa líquido de R$ 5 bilhões, o que significa que, dependendo da estrutura do capital social combinado da empresa, o valor total da Namisa pode crescer, aumentando a participação do consórcio na nova companhia.”
Para o BTG Pactual, o acordo firmado irá, na prática, incorporar um ativo, a Namisa, que está operando no vermelho diante do atual preços do minério de ferro, afirmam os analistas Leonardo Correa e Caio Ribeiro, em análise enviada ao mercado. “Pelas nossas expectativas, a Namisa é uma operação que precisa do minério de ferro acima de US$ 80 para ser economicamente viável. Então, efetivamente, esta é uma consolidação de um ativo que pode estar agora operando no vermelho”, destacam os profissionais, que afirmam que há ainda muitas questões pendentes sobre esse assunto. O preço do minério está abaixo de US$ 70 a tonelada no mercado à vista chinês.
De um lado, o consórcio asiático ingressará com a sua participação de 40% da Namisa. De outro, a CSN entrará com a fatia remanescente da Namisa (60%), a mina Casa de Pedra, 8,63% de sua participação na MRS Logística e ativos e direitos para operar a concessão relacionada ao Porto de Itaguaí.
Nesse contrato, as partes se cercaram de um mecanismo chamado de “earn out”, geralmente usado em aquisições nas quais os sócios divergem sobre o valor justo da companhia e sua performance futura.
A CSN informou que em caso de um “evento de liquidez qualificado que ocorra dentro de determinados parâmetros de valoração e dentro de um período de tempo acordado após o fechamento da operação, poderia diluir a participação do Consórcio na Congonhas Minérios de 11,75% até 8,21%”. O fechamento da operação depende ainda do consenso entre os sócios em relação ao plano de negócios e de aprovações regulatórias. A previsão inicial é de que a conclusão ocorra no final de 2015. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.