A passagem de Cássio pelo Corinthians chegou ao fim após 712 jogos, defesas históricas e nove títulos. Aos 36 anos, ele não deixa o clube para se aposentar, mas para defender a camisa do Cruzeiro, time no qual espera ter mais chances como titular, depois de perder a posição para Carlos Miguel. Embora muito criticado nas redes sociais por atuações recentes, o goleiro nunca deixou de ser ovacionado na Neo Química Arena, o que mostra que seu status de ídolo segue preservado.
O certo é que ele faz parte do panteão alvinegro formado por nomes como Teleco, Luizinho, Baltazar, Sócrates, Casagrande, Neto, Ronaldo Giovanelli, Tupãzinho, Basílio, Biro-Biro, Zé Maria, Wladimir, Rivellino, Marcelinho Carioca, Rincón, Edilson, Ronaldo Fenômeno, entre outros.
Afinal, quão ídolo é Cássio? Não é fácil mensurar tamanho de um atleta na história de um clube, mas o <b>Estadão</b> procurou outros jogadores históricos do time do Parque São Jorge para entender o que leva a torcida corintiana a idolatrar alguém.
Os motivos vão muito além dos títulos, como bem sabe Basílio, autor do gol da conquista do Paulistão de 1977, que encerrou um jejum de 23 anos. Para o ex-meia de 75 anos, basta olhar para a reação de uma criança corintiana frente à presença de Cássio para entender a importância do goleiro.
"O carinho e o respeito que as crianças têm por ele é uma coisa fabulosa. É isso que tem que ficar marcado dentro do coração do Cássio, entendeu? Essas crianças, esses adolescentes que são fã número um dele jamais deixarão de ter esse respeito, esse carinho por ele. Agora, aqueles que fazem essas críticas, que se aproveitam do momento, são pessoas muito mais fracas de cabeça. Eu queria tanto que ele continuasse, porque ele iria calar a boca de muita gente. Ele é um ídolo eterno do Corinthians", afirma o Pé de Anjo ao <b>Estadão</b>.
Basílio defende que Cássio foi vítima de críticas injustas e se diz triste por ver o multicampeão deixando clube, pois acreditava que ele iria se aposentar usando a camisa alvinegra. Apesar frustração, o ex-meio-campista, que frequenta o CT Joaquim Grava e tem contato direto com o goleiro, afirma entender os motivos da saída.
"Ele virou um alvo. Acho que ele nunca pensou em sair do Corinthians, eu acho que pensava em encerrar sua carreira, dar continuidade trabalhando no clube, não sei em qual setor. De repente, anteciparam tudo isso. Algumas coisas aconteceram com ele, entendeu? E eu prefiro me calar, eu prefiro muito mais que ele venha a público e depois ele conte por que tomou essa decisão", diz.
Companheiro de Basílio no fim da década de 1970, tetracampeão paulista e integrante da Democracia Corintiana, Biro-Biro é enfático ao falar sobre Cássio e o coloca como número um entre os ídolos alvinegros. "Hoje ele está em primeiro lugar como ídolo. Está em primeiro lugar por aquilo que ele conquistou, aquilo que ele realmente representou, agora que está indo embora. Ele realmente foi muito importante para o corintiano."
A despedida para defender outro clube do Brasil, na visão de Biro-Biro, não diminui em nada o tamanho do goleiro na história do clube alvinegro. "Ele está saindo, mas é claro que vai continuar sendo ídolo do Corinthians, a porta vai estar aberta, com certeza. Vai ser sempre o Cássio. Outros jogadores saíram e jogaram em outros clubes, mesmo assim continuaram sendo ídolos, como eu, o Marcelinho, o Neto, vários outros. Então, ele continua sendo ídolo da torcida. Aquilo que nós representamos ninguém apaga."
A RELAÇÃO DO CORINTHIANS COM SEUS ÍDOLOS É CONTURBADA?
Com a saída, Cássio perde a oportunidade de se tornar o atleta com mais jogos da história do Corinthians. Hoje, com 712 jogos, está atrás apenas do lateral-esquerdo Wladimir, que jogou no clube de 1972 a 1985, antes de ter uma segunda passagem em 1987, encerrada para ir ao Cruzeiro, como o goleiro. Wladimir, que totaliza 806 partidas pela equipe da capital paulista, ainda jogou no Santos, último clube de sua carreira.
Muitos dos maiores ídolos da história corintiana não encerraram a carreira com a camisa alvinegra, e alguns até deixaram o clube em momentos tumultuados. A forma como Rivellino saiu, em meio a muitas críticas após o título paulista de 1974 perdido para o rival Palmeiras, costuma ser lembrada por aqueles que dizem que a torcida do Corinthians mantém uma relação conturbada com seus ídolos, afirmação com a qual Basílio não concorda.
"Eu não vejo dessa forma. Eu, por exemplo, saí brigado, mas foi com o presidente, que na época não entendeu o que eu tinha de direito e achou que não poderia dar o aumento. Mesmo assim, retornei, saí vaiado pela torcida, mas sempre tiveram um carinho muito grande por mim. Então, eu não vejo que o corintiano maltrata seus ídolos. A partir do momento, que os ídolos se dão respeito perante ao torcedor e à própria direção, com certeza ele vai ser sempre respeitado", comenta.
Biro-Biro concorda com o ex-companheiro e não entende a saída de Cássio como um episódio de conturbação no clube. "Ele não está saindo conturbado, alguns ídolos saíram assim, outros não. O Cássio realmente está saindo por ele. Isso é uma opinião dele, ficou bastante tempo no clube e quer dar uma mudada. Talvez por aquilo que aconteceu, alguns torcedores pegando no pé", afirma.