Mesmo após o surgimento de provas que agravam as denúncias contra si, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), declarou repetidas vezes que não pretende renunciar ao cargo. Em entrevista à imprensa nesta segunda-feira, 19, o peemedebista disse não se sentir isolado politicamente e afirmou que não precisa que seu partido ajude em sua defesa. Cunha negou ainda que haja articulação entre ele e o Planalto para negociar sua permanência na presidência da Casa em troca da não instauração de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“Vai continuar exatamente do jeito que está. Eu continuarei, não renunciarei e aqueles que desejam porventura minha saída vão ter de esperar o fim do mandato para escolher outro”, declarou. “É importante deixar claro o seguinte: fui eleito pela Casa. Aqui só cabe uma maneira de eu sair, é renunciar. E não vou renunciar. Então, aqueles que acham que podem contar com minha renúncia, esqueçam, eu não vou renunciar”, reforçou o presidente da Câmara. Ele disse seguir presidindo a Câmara “com toda tranquilidade” e que tem “toda legitimidade” para praticar todos os atos inerentes à função para a qual foi eleito.
Questionado se espera ajuda do PMDB para sua defesa, Cunha disse que “não espera nada”. “Não preciso que ninguém ajude na minha defesa. Minha defesa será feita por mim mesmo e pelos meus advogados no momento e no fórum apropriado. Não tenho nenhuma preocupação com isso”, afirmou. Segundo o peemedebista, ele precisará apenas provar sua inocência em relação às acusações para que a maioria dos integrantes do Conselho de Ética e do plenário possa “se satisfazer” com a defesa. Indagado se tem ou se nega ter contas na Suíça, Cunha não negou e disse que só falará sobre esse assunto por meio de nota ou dos advogados.
Na entrevista, o presidente da Câmara afirmou ainda que ninguém do governo o procurou para fazer acordo. “Não tem articulação. Não tem plano A, B, C, D ou E, não tem plano nenhum. Qualquer discussão especulação está sendo feito é perda de tempo”, afirmou.
CPI
Cunha disse ainda que não cabe a ele, como presidente da Casa, prorrogar os trabalhos da CPI da Petrobras, previstos para acabar hoje com a leitura do relatório final. Segundo o peemedebista, não cabe a ele se “intrometer” no trabalho do colegiado.
“A CPI não votou sua prorrogação e não cabe ao presidente da Câmara fazer de ofício a prorrogação”, afirmou. Ele disse não ter nenhuma preocupação com o fato de o colegiado encerrar seus trabalhos sem ouvir nenhum dos políticos denunciados pela Procuradoria Geral da República (PGR) no âmbito da Operação Lava Jato.
“Além de ter ido voluntariamente, sou o responsável pela sua criação. Até como líder do PMDB, fui eu quem deu as assinaturas para que isso acontecesse. Então eu não tenho nenhuma preocupação com relação a isso”, afirmou. “Eles podem fazer o que quiserem, é o jogo político, eu não vou nem tomar conhecimento”, acrescentou.
Cunha rechaçou também crítica do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) de que houve um “acordão” entre PT, PMDB e PSDB para encerrar a CPI sem ouvir os políticos. Para o presidente da Câmara, cabe aos partidos se manifestar sobre isso. “Se apresenta e vota (relatório final), acaba a CPI por si só”, afirmou.
Meta fiscal
O presidente da Câmara disse também que não pode prever se a revisão da meta de superávit primário do governo para 2015 tem condições de ser aprovada no Congresso Nacional. “Pode passar, o problema que na frente tem vetos, LDO, a lei orçamentária”, afirmou.
O peemedebista disse também não ser possível prever se a revisão da meta fiscal será aprovada ainda este ano. “Não tenho condições de te afirmar isso (se será aprovada ainda este ano), depende das sessões do Congresso que vamos ter e das confusões que podem acontecer. Mas eu diria a você que está um calendário muito espremido”, disse Cunha.
Como mostrou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, na semana passada, o governo estuda alterar a meta de superávit primário para este ano dos atuais 0,15% do PIB para algo próximo de déficit de 0,3%. A medida seria necessária em razão da queda na arrecadação de impostos e da dificuldade do governo em aprovar de medidas do ajuste fiscal no Congresso.