Os juros futuros avançaram na ponta curta da curva nesta sexta-feira, 1º, enquanto o mercado ajustava as apostas no ritmo de cortes e no nível terminal da taxa Selic após a surpresa positiva com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. A sessão também foi de alta, mais moderada, no trecho intermediário da curva. Com o risco fiscal em segundo plano, as taxas longas apresentaram viés de baixa.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 – que reflete as apostas na Selic do fim de 2024 – subiu cinco pontos-base em relação ao ajuste anterior, de 10,521% para 10,570%. O DI para janeiro de 2026 ganhou dois pontos, de 10,145% para 10,165%, enquanto o para janeiro de 2024 ficou próximo da estabilidade, com taxa de 12,375%, de 12,382% no ajuste anterior.
Nos trechos longos, o DI para janeiro de 2027 encerrou em leve baixa, de 10,346% para 10,335%, e o contrato para janeiro de 2029 recuou cinco pontos, de 10,824% para 10,770%. Como resultado, a curva perdeu inclinação, com queda do spread entre os contratos para janeiro de 2025 e janeiro de 2029, de 30,3 pontos-base no ajuste anterior para 20 pontos.
Analistas atribuem o movimento das taxas na sessão a uma retirada das apostas de queda mais rápida da taxa Selic, após o IBGE ter informado que o PIB brasileiro cresceu 0,9% no segundo trimestre – 0,6 ponto porcentual acima do consenso, de 0,3%. No mercado, a leitura foi de que a atividade mais forte dificulta uma aceleração no ritmo de afrouxamento monetário, e pode indicar juros mais altos no fim do ciclo.
"O PIB ajudou a subir um pouco as taxas intermediárias, que refletem justamente onde a taxa Selic vai poder chegar", resume o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno. "Dado que o BC colocou um piso de 50 pontos-base por reunião para o ciclo de cortes, e que o PIB mais forte dificulta a aceleração, o mercado se ajusta para precificar esses 50 pontos."
Além do crescimento mais forte da economia, o economista da Guide Investimentos Rafael Pacheco destaca que o aumento dos rendimentos dos Treasuries ajudou a puxar a alta dos DIs. Apesar do payroll ter mostrado crescimento do desemprego nos Estados Unidos, de 3,5% em julho para 3,8% em agosto, o PMI industrial do país subiu mais do que o previsto e levantou dúvidas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
"Lá fora, o PMI um pouco acima do esperado e as falas da presidente do Fed de Cleveland Loretta Mester, que falou de um desemprego ainda baixo e de inflação ainda alta, acabaram puxando essa alta dos Treasuries, que bate aqui", diz Pacheco. "Para alguém que estava mais dove, esperando cortes de 75 pontos da Selic este ano, a combinação dessas coisas pode levar a uma revisão."