Mesmo com algum ajuste nas projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2015/16, que caiu de 212 milhões de toneladas para 210 milhões de toneladas, o governo mantém-se otimista com as expectativas de produção. Durante a divulgação do 5º Levantamento do período, nesta quinta-feira, 4, pela manhã, o presidente da companhia, Lineu Olímpio de Souza, observou que mesmo com ajuste, dados mostram uma produção maior que a registrada na safra 2014/2015.
Para o secretário de Política Agrícola, André Nassar, do Ministério da Agricultura, os levantamentos anteriores já mostravam algum grau de incerteza por excesso de chuvas no Sul e falta delas no Centro-Oeste. “A gente está chegando muito perto do número final. Podemos deixar uma mensagem positiva. Este ano, com câmbio bom, a gente vai produzir mais e exportar mais em volume, o que aumenta a receita”, explicou.
O diretor de Política de Política Agrícola e Informações, João Marcelo Intini, da Conab, responsável pela pesquisa, avaliou que todas as regiões produtoras mostraram clima favorável em janeiro. “Seguimos rumo a 210 milhões de toneladas”, frisou. Ele ponderou, no entanto, que para algumas culturas houve perda de produtividade. No arroz, por exemplo, que vinha recebendo um acompanhamento mais detalhado, foi detectada redução de área plantada e deve ocorrer alguma importação do cereal, em virtude da quebra de safra de cerca de 1 milhão de toneladas.
Para o feijão, Intini observo que houve “pequena redução” da área plantada, mas aumento da produção. “Não temos problema de oferta de produto. Paraná e Minas Gerais já estão colhendo a primeira safra. A segunda safra começa agora. Independentemente do mês e da estação, todo mês tem colheita de feijão. Não há risco de oferta do produto no mercado”, garantiu.
A soja, que continua como principal grão do País, deve atingir 100,9 milhões de toneladas. Houve algum recuou nas expectativas frente ao 4º levantamento de safra, ainda assim, Intini garante que a colheita deve registrar volume expressivo.
Nassar avalia que a safra 2015/2016 deve se consolidar em cerca de 210 milhões de toneladas. A expectativa inicial era de que a produção alcançasse 212 milhões de toneladas, mas problemas climáticos reduziram as estimativas para soja e arroz. A safrinha de milho, que começa a ser plantada em fevereiro e março, pode levar a novas mudanças nesses dados – o preço do milho, sobretudo pelo dólar mais alto frente o real, tem sido interessante para o produtor.
“Com os preços atuais, quanto mais for produzido, melhor para a rentabilidade do produtor”, comentou Nassar. O secretário observou, ainda, que mesmo com uma redução de produtividade, a renda do agricultor não deve ser afetada. No caso do milho safrinha, a previsão é de recorde. Ele explicou que já havia uma expectativa de alguma oscilação nas previsões para a safra 2015/2016, sobretudo por incertezas climáticas em plantações de soja de Mato Grosso. “De qualquer forma, continua sendo produção grande, maior que a passada. Daqui para frente, não esperamos maiores quedas”, afirmou.
Arroz e feijão
Questionado se o Brasil teria necessidade importar arroz e feijão, produtos essenciais na mesa do brasileiro, ele relatou que normalmente existe um fluxo de importação e exportação desses itens. “Feijão é diferente, em período de três meses podemos ter a saca subindo ou descendo R$ 60 a R$ 70”, explicou, referindo-se ao curto ciclo produtivo da leguminosa, que garante três safras por ano.
Ele não confirmou, no entanto, se haverá necessidade de importação no caso do feijão. “Para o arroz, existe bom estoque de passagem no Uruguai, Paraguai e Argentina e isso significa que virá arroz de lá. Devemos importar cerca de 1 milhões de toneladas ou um pouco mais”, observou.
Segundo Nassar, o arroz vem de um cenário de preços ruins e custos de produção elevados, quadro que se reverteu nesta safra. “Os preços novos estão dando rentabilidade para o arroz e isso significa que ele vai investir no cereal na próxima safra”, disse.
No fim da entrevista, o secretário foi questionado sobre possibilidade de o governo tributar as exportações. “Eu não entendo que o governo queira tributar exportação, tudo que sabemos é que não”, disse. “A experiência Argentina mostra que quem paga a conta é o produtor, que produz menos e é substituído por um concorrente no mercado internacional. Isso só gera consequência negativa”, ponderou.
Influência do clima
João Marcelo Intini explicou nesta quinta-feira que a queda nas projeções para a safra 2015/2016 ocorreu em virtude do clima, principalmente em Mato Grosso. Segundo ele, a companhia já vinha observando redução em algumas áreas. “A restrição hídrica na soja precoce trouxe redução de produtividade”, justificou.
Ele disse, ainda, que houve pequeno ajuste nas estimativas de arroz e de soja no atual levantamento mas, ainda assim, se manteve a previsão de safra recorde, com a soja apresentando a maior expansão. “As condições nesse momento são amplamente favoráveis para plantio da primeira e segunda safra. Tudo tem conspirado a favor da segunda safra. Mesmo na região de Mato Grosso.”
El Niño
Segundo o diretor, o fenômeno climático El Niño trouxe uma “grata surpresa”, com inversão das condições climáticas em janeiro, o que levou chuvas para o Nordeste. A mudança no clima, na avaliação dele, ajudou as criações e possibilitou plantio em muitas regiões. “Não sabemos se isso vai se sustentar. Mantemos como nossa baliza os modelos matemáticos para o clima na região. Vamos observar”, disse.
Intini relatou, ainda, que as condições climáticas de todo o Matopiba, região formada por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, são favoráveis. “Em alguns lugares as chuvas foram expressivas, o que elevou o ânimo do produtor e a qualidade da plantação”, concluiu.