Alguns dias após o governo anunciar medidas para injetar recursos no mercado para reforçar o crédito, o Banco Central revelou que esse setor realmente anda em franca desaceleração. A projeção oficial para 2014 é de expansão de 12%, mas no acumulado de 12 meses até julho a taxa de crescimento do estoque de financiamentos chegou a 11,4%, num processo mensal de redução, que atingiu o menor patamar dessa série, iniciada em 2007.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, ressaltou que julho é tradicionalmente um mês mais fraco para os empréstimos. Admitiu, porém, que a acomodação também pode estar associada à moderação da atividade. Para ele, o esfriamento das concessões chega a apresentar aspectos benignos para a economia e, se é influenciado pelo ritmo do crescimento, também pode ser um dos motores da atividade doméstica. Atualmente no Brasil, R$ 2,8 trilhões estão girando em operações de financiamento.
Daqui a um mês, o BC revisará suas estimativas para o ritmo de alta do crédito este ano e já deu sinais de que, se houver mudança, será para baixo. “As medidas podem diminuir alguma perspectiva de revisão da projeção de crédito”, considerou Maciel. Segundo ele, no entanto, os desdobramentos do pacote do governo já estão dentro do cenário do crédito de evolução esperada pela instituição. “Claro que as medidas têm algum efeito no crédito, mas é impacto moderado, em alguns segmentos”, disse.
O principal responsável por esse desaquecimento do mercado, principalmente para pessoas físicas, conforme o técnico, foi o crédito para veículos. E foi justamente para o setor automóveis que o governo focou as medidas para alavancar o financiamento recentemente. Receberão benefícios os bancos que conseguirem ampliar sua carteira de empréstimos para aquisição de carros em pelo menos 20% na comparação com o desempenho do primeiro semestre do ano. Dados preliminares, adiantou Maciel, apontam para um cenário de recuperação em agosto. Ele, no entanto, não apresentou números.
Públicos x privados
Os bancos públicos continuaram a puxar o aumento do estoque de crédito em 2014, ainda que em um ritmo mais brando do que o visto no ano passado. Conforme o BC, houve avanço de 7,9% no ano até julho nesse segmento, para um total de R$ 1,5 trilhão. Nos bancos privados nacionais, o avanço foi de 1,8% no mesmo período, para R$ 919 bilhões. Já nos bancos estrangeiros, houve queda de 1,4% no acumulado do ano, para R$ 416 bilhões.