O mercado de trabalho parece ter se mantido aquecido na virada do ano, a despeito da tendência sazonal de aumento na taxa de desemprego, avaliou Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de desemprego ficou em 7,6% no trimestre terminado em janeiro, mesmo resultado do trimestre terminado em outubro de 2023. Considerando apenas trimestres terminados em janeiro, a taxa de desocupação foi a mais baixa desde 2015. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo IBGE.
"Não é de se esperar que no trimestre encerrado em janeiro haja crescimento expressivo da ocupação. No trimestre até janeiro de 2024, não houve crescimento significativo, mas já foi suficiente para não fazer a taxa de desocupação aumentar, mas sim permanecer estável", frisou Beringuy nesta quinta-feira, 29.
Segundo ela, do ponto de vista da ocupação, o mês de janeiro de 2024 foi melhor que os anos anteriores. O País registrou uma geração de 387 mil vagas no mercado de trabalho no trimestre até janeiro em relação ao trimestre encerrado em outubro de 2023. A população ocupada alcançou 100,593 milhões de pessoas no trimestre encerrado em janeiro. Em um ano, mais 1,957 milhão de pessoas encontraram uma ocupação.
A população desempregada aumentou em 32 mil pessoas em um trimestre, totalizando 8,292 milhões de desempregados no trimestre até janeiro. Em um ano, porém, 703 mil pessoas deixaram o desemprego.
"Parte desse resultado ainda tem influência importante dos dois últimos meses de 2023", ponderou Beringuy.
Questionada se o mercado de trabalho permaneceu aquecido na virada para 2024, Beringuy consentiu. "É o que parece, é o que o dado está indicando. À medida que a gente for divulgando fevereiro e março, a gente vai ter condições de avaliar o trimestre como um todo, o primeiro trimestre", acrescentou.
Segundo ela, o processo sazonal de dispensa de trabalhadores temporários, característico do início de cada ano, é melhor avaliado no fechamento do primeiro trimestre.
"O que a gente tem de 2024 é apenas o mês de janeiro. A gente tem apenas um terço dessa virada do ano representada nesse trimestre móvel. Esse trimestre móvel tem ainda uma influência importante do final do ano passado", explicou.
Beringuy ressalta, porém, que ainda não foi possível identificar nos números um aumento sazonal importante da taxa de desocupação nem pressão de crescimento no número de pessoas em busca de emprego.
"Em algumas atividades, principalmente de serviços, não apenas não houve dispensa como houve expansão da ocupação", declarou. "A população ocupada é recorde na série histórica comparável."
Sete das dez atividades econômicas registraram abertura de vagas no trimestre encerrado em janeiro: indústria (234 mil a mais), serviços domésticos (121 mil), informação, comunicação e atividades financeiras, profissionais e administrativas (241 mil), comércio (103 mil), construção (89 mil), outros serviços (164 mil) e transporte e armazenagem (247 mil). Houve demissões apenas na agricultura (503 mil vagas a menos), alojamento e alimentação (-126 mil) e administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (-191 mil).
Em relação ao patamar de um ano antes, as atividades com perdas foram a agricultura (-582 mil trabalhadores) e o comércio (-2 mil vagas). Os demais setores contrataram: indústria (299 mil), serviços domésticos (58 mil), administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (591 mil trabalhadores a mais), alojamento e alimentação (83 mil), construção (130 mil pessoas), outros serviços (166 mil), informação, comunicação e atividades financeiras (788 mil) e transporte (404 mil).
Beringuy notou que a perda de vagas na agropecuária foi "importante", tanto na comparação com o trimestre anterior quanto em relação ao mesmo período do ano anterior. O instituto identificou a influência de queda de população ocupada em lavouras de milho e de café.
"Milho, principalmente, teve perda importante de pessoal ocupado", afirmou. "A queda na agropecuária foi mais do que compensada pela expansão da ocupação em outras atividades", ponderou Beringuy.
Entre os destaques positivos, Beringuy mencionou a geração de vagas em transporte e armazenagem, impulsionada pelo transporte e logística de cargas. Houve expansão significativa também de vagas em serviços profissionais e administrativos, puxada, segundo ela, pelo processo de terceirização e alocação de mão de obra em empresas, com recomposição de pessoal de escritório, por exemplo.