Quando Ariel Pink, músico psicodélico com inclinações indie, lançou o disco Mature Themes, de 2012, uma canção chamou a atenção entre as outras 12 músicas. Baby encerrava um álbum experimental com toques pop, vocal bucólico e uma linha de baixo bem funk que parecia ter chegado ali através de uma cápsula do tempo, atravessando décadas até o álbum do norte-americano. Nos créditos da faixa, a improvável presença de Dâm-Funk, nome artístico de Damon Riddick, aparece e justifica a influência seguida por Pink.
Riddick é considerado o mestre de um movimento de revitalização do funk, distanciando-se de “parte da estética do gênero e até de associações com a cocaína”, como explicou ele ao jornal O Estado de S.Paulo, ao telefone, diretamente de Los Angeles, onde mora há 20 anos, desde que deixou Pasadena, também no Estado norte-americano da Califórnia.
O músico já se preparava para uma nova visita ao Brasil, desta vez como atração da festa Só Pedrada Musical, realizada nesta sexta-feira, 14, no Superloft. Dâm-Funk encerra a noite com um DJ set antecedido pelos DJs Tamenpi, Dubstrong e Mari Mats. Nomes como Nightmares On Wax e o ótimo Kid Koala já participaram da festa em edições anteriores. “Não gosto de preparar o que vou tocar com antecedência”, explica. “Prefiro sentir como a pista de dança está no momento.”
Riddick explica ao telefone como se pronuncia corretamente o nome artístico, algo como “dâme-funk”, e se mostra animado com a proximidade do lançamento do segundo disco de estúdio propriamente dito, quase seis anos depois de Toeachizown, um álbum fundamental para entender o movimento de “modern funk”, gênero criado para tentar explicar essa retomada da sonoridade eternizada por James Brown, George Clinton e Prince.
O disco de estreia, lançado em 2009, colocou os padrões desse novo funk nas alturas. Ao longo dos anos, outros artistas buscaram naquele trabalho a inspiração para entender a revolução musical que continha ali – uma mistura da sonoridade do funk do coletivo psicodélico Parliament-Funkadelic com o hip-hop gângster da Costa Oeste dos Estados Unidos, boogie e funktronica. “O meu segundo disco levará isso ainda mais adiante”, explicou Riddick.
Invite the Light chega às lojas no dia 4 de setembro pela gravadora Stones Throw, selo independente famoso por lançar bons nomes do hip-hop e novas estrelas do soul, como Aloe Blacc e Mayer Hawthorne. O disco é descrito como um “trabalho conceitual levemente autobiográfico” e, segundo o músico, trará os pontos altos e baixos da sua vida no intervalo entre trabalhos. “Acho que, no fundo, há uma mensagem positiva neste trabalho”, analisa.
O primeiro single, We Continue, lançado no fim do mês passado, é uma amostra de como o trabalho não terá uma tendência sombria, embora Dâm-Funk tenha vivido alguns momentos sombrios nos últimos anos. “Essa canção está no começo do disco e tem essa ideia de passar uma mensagem: nunca desistir”, explica. “Passei por muita coisa desde o primeiro álbum. Coisas ruins, mortes de pessoas próximas, assim como bons momentos,.Tudo isso foi colocado neste disco. Por isso, escolhi este nome: Invite the Light”, explica. O nome do álbum, em tradução livre, é algo como “convide a luz”.
“O que eu quero dizer é: convide a luz para a sua vida. Não estou dizendo que somos santos. Ninguém é positivo o tempo todo. Mas o importante é ir para cama, ao fim do dia, com algo positivo, entende?”
O álbum tem parcerias com artistas como Junie Morrison, Q-Tip, Ariel Pink, Snoop Dogg, entre outros. “Me diverti com eles. Mas, já garanto, o próximo disco farei sozinho.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.