O dólar teve novo dia de queda, na esteira da melhora do ambiente de negócios no exterior após o acordo em Washington para aprovar o pacote emergencial trilionário do governo americano para contornar a crise do coronavírus, embora com direto a impasse no final do dia entre democratas e republicanos sobre o valor do seguro-desemprego. A moeda americana chegou a cair abaixo de R$ 5,00 na tarde de hoje, mas em dia de fraco volume de negócios, a queda acabou perdendo força na hora final dos negócios. No mercado à vista, o dólar fechou a R$ 5,0326, em baixa de 0,97%.
A piora do ambiente político, após o discurso ontem à noite de Jair Bolsonaro, defendendo o fim da quarentena no País, e provocando reações em governadores e parlamentares, foi monitorada de perto pelas mesas de câmbio, mas não chegou a influenciar os preços nesta tarde, com o impacto maior vindo do exterior. Na mínima de hoje, a moeda americana chegou a cair a R$ 4,97.
"O discurso trouxe um pouco de dúvida, de pressão, mas não ajudou a piorar o dólar. Ficou a dúvida sobre o que virá pela frente", disse o responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagen. Para ele, o principal fator para o alívio nas cotações hoje é que o mercado melhorou no exterior com o acordo no Congresso e a sensação é de que, com a aprovação do pacote de Trump, "vai dar uma bela aliviada de agora para frente". A liquidez hoje, porém, está bem baixa, acrescentou ele. No mercado futuro, o contrato do dólar para abril movimentou apenas US$ 15 bilhões.
Para o diretor de moedas em Nova York da BK Asset Management, Boris Schlossberg, a perspectiva de aprovação do pacote emergencial de socorro em Washington ajudou a melhorar o humor dos investidores, fazendo as bolsas subirem forte ao redor do mundo e as moedas se recuperarem ante o dólar. No primeiro mundo, a libra subiu mais 1% e, nos emergentes, o dólar caiu 3,5% no México. Agora, diz ele, o foco das mesas de operação deve se voltar para as estatísticas dos novos casos e das mortes provocadas pelo coronavírus, especialmente na Europa e nos EUA. Ele acha "irrealista" a ideia de Trump de reabrir a economia americana até a Páscoa.
Vários relatórios de bancos hoje chamam atenção para possível impacto no dólar amanhã com a divulgação nos EUA dos pedidos semanais de auxílio-desemprego, que poderão dar ideia mais clara sobre o impacto da crise do coronavírus no emprego. Os economistas do Commerzbank esperam crescimento de dez vezes, para 3 milhões de pedidos. Este número, caso confirmado ou superado, pode enfraquecer o dólar ante divisas fortes, mas elevá-lo perante os emergentes ao estimular a busca por ativos seguros diante do temor de fraqueza da economia americana.