O dólar engatou queda nos negócios da tarde desta quinta-feira, 8, após uma manhã volátil. A perda de força da moeda americana no exterior, em meio à renovadas expectativas por um pacote de estímulo nos Estados Unidos, ajudou a retirar pressão do câmbio no mercado doméstico. A ausência de noticiário negativo doméstico também ajudou e investidores aproveitaram para realizar ganhos recentes – dos cinco pregões deste mês até ontem, o dólar só caiu em um. Contudo, profissionais das mesas de operação, comentam que persiste o desconforto com o cenário fiscal brasileiro, tanto que a moeda não se distanciou dos R$ 5,60, por onde tem orbitado nos últimos dias.
No mercado à vista, após oscilar entre mínima de R$ 5,57 a máxima de R$ 5,64, o dólar fechou em queda de 0,65%, cotado em R$ 5,5886. Já o dólar futuro com liquidação em novembro era negociado em baixa de 0,41% às 17h.
Embora tenha rejeitado um pacote isolado para o setor aéreo, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, foi a responsável hoje por enfraquecer o dólar ante emergentes e exportadores de commodities. "Estamos nas mesas de negociações, tivemos alguns progressos", disse, defendendo um pacote mais amplo.
Para a economista da corretora Stifel, Lindsey Piegza, com as eleições se aproximando, cresce a pressão em Washington para um acordo que aprove um pacote grande de estímulos para empresas e pessoas, especialmente com a atividade perdendo fôlego. Com a Câmara parada e o Senado postergando votações até ao menos o próximo dia 19, por causa de casos de coronavírus entre os senadores, ela acha pouco provável que um acordo saia por agora, mas os mercados parecem acreditar nessa possibilidade.
No mercado interno, as vendas no varejo surpreenderam e ajudaram a retirar pressão do câmbio. Modelo desenvolvido pelo Bank of America mostra que a recuperação da economia brasileira está ocorrendo em V e o Produto Interno Bruto (PIB) pode ter contração menor este ano, mais perto de 4% do que dos 4,9% previstos oficialmente pelo banco americano. O BofA alerta ainda sobre os riscos fiscais. O novo programa social do governo pode estimular o PIB em 2021, mas às custas de maior piora fiscal, o que pode pressionar a inflação e levar a alta de juros.
"O real permanece sujeito a numerosos riscos no curto e no médio prazo", comenta a analista de moedas do Commerzbank, You-Na Park-Heger. Ela prevê que a moeda vai seguir desvalorizada ao menos até meados de 2021, quando tem chance de cair abaixo de R$ 5,00. A analista ressalta que a delicada situação fiscal do Brasil não vai se resolver por agora e sempre fica no radar das mesas a possibilidade de o ministro da Economia, Paulo Guedes, sair do governo.