O mercado de câmbio operou por mais um dia sob o signo da cautela diante da soma de incertezas para a economia global que a pandemia do coronavírus traz. Nesse contexto, as preocupações se voltam para o quão enfraquecida pode ficar a economia americana, que já aponta para uma escalada rápida da taxa de desemprego. Em meio a esse panorama externo, analistas citam problemas domésticos com relação às repostas governamentais para enfrentar a crise.
A divisa americana fechou no mercado à vista cotada a R$ 5,2662, em alta de 0,06%, em nova máxima histórica de fechamento. Hoje o Banco Central fez novo leilão de moeda na parte da tarde vendendo US$ 835,0 milhões, com taxa de corte foi de R$ 5,2620.
Na avaliação de Gustavo Cruz, da RB Investimentos, a maior economia do mundo é também a maior atratora dos recursos. "Se a atividade dos Estados Unidos está mais fraca, como indicam os antecedentes do emprego, significa que o mundo está mais arriscado, aí real e moedas de emergentes se desvalorizam", diz, acrescentando que, ao mesmo tempo, essa queda nos níveis de emprego pode ser usada politicamente para que o presidente Donald Trump consiga elevar sua política fiscal expansionista, inclusive, aprovar todo o pacote de estímulos em infraestrutura que tem proposto. "A perspectiva de retomada mais rápida também atrai compradores para o dólar".
Hoje o departamento do Comércio americano informou que novos pedidos de auxílio-desemprego nos EUA saltaram 3,341 milhões na semana encerrada em 28 de março, para o novo recorde de 6,648 milhões. Na visão do banco holandês ING, as solicitações desse auxílio avançaram quase 10 milhões ao longo das últimas duas semanas, o que por si só pode levar a taxa de desemprego a subir a 9,5%.
"O real e as moedas da maioria dos emergentes vão continuar nessa dinâmica de perda de valor enquanto não houver uma perspectiva mais clara de controle da epidemia e, principalmente, de seus impactos", complementa Cruz.
Ricardo Galhardo, sócio da Treviso Corretora, cita a falta de organização em relação ao enfrentamento da crise e a disputa política entre governo federal e governadores. Segundo ele, essa rusga reflete no dólar, uma vez que o investidor que ainda está aqui em vez de aproveita ativos atrativos na Bolsa, fica receoso com o risco político. "Isso certamente bate no dólar".
Nem mesmo a alta recorde das cotações do petróleo, após notícias de que avançam conversas entre Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia para cortar a produção, fez o dólar enfraquecer frente às moedas da maioria dos emergentes e também o real.