O dólar fechou a semana acumulando valorização de 3,3% ante o real. A moeda brasileira foi a que mais perdeu valor esta semana no mercado internacional, considerando os principais emergentes. Crescentes preocupações com piora adicional das contas fiscais brasileiras, em meio à lenta vacinação, ao crescimento dos casos de covid e a mais medidas de restrição, como as anunciadas nesta sexta-feira, 22, pelo governo de São Paulo, que também acenderam uma luz amarela sobre os efeitos na atividade econômica. No geral, o dólar teve comportamento bem mais ameno em outros emergentes nos últimos cinco dias, caindo ao redor de 0,60% na Turquia e África do Sul e subindo 0,85% no México. No ano, o dólar já sobe quase 6% no Brasil.
Nesta sexta-feira, o dólar operou em alta em todo o dia, fechando com valorização de 2,14%, a R$ 5,4790, a cotação mais alta desde o dia 11 (R$ 5,50). No mercado futuro, o dólar para fevereiro subiu 2,20%, a R$ 5,4700.
Os mercados globais tiveram uma semana mais positiva, enquanto o Brasil destoou desse ambiente, observam os estrategistas da BlueLine Asset Management. O início da vacinação foi a notícia animadora, mas o processo lento e a falta de insumos, enquanto as novas contaminações não param de aumentar, contribui para aumentar a pressão em Brasília por mais medidas emergenciais, principalmente programas sociais e ontem os candidatos ao comando do Senado e da Câmara apoiados pelo governo falaram em prorrogar o auxílio. "A grande dúvida é se essas despesas serão cobertas com rearranjo orçamentário dentro do teto de gasto, ou serão feitas sem planejamento."
Para o economista-chefe da Gávea Investimentos, Tiago Berriel, ex-diretor do Banco Central, qualquer flexibilização do teto de gastos e aumento de despesas públicas neste momento deveria vir com algum sinal de ajuste "muito claro" no período pós-pandemia, disse na tarde de hoje em evento online da Modalmais. "Eu não veria como um sinal bom um desvio do teto agora sem nenhuma contrapartida específica e clara no futuro", afirmou, alertando não ver espaço no Orçamento para realocar um programa de R$ 40 bilhões.
Na avaliação de outro ex-BC, Carlos Viana, sócio da Asset 1, qualquer alta de gasto com apenas uma promessa de que vão ajustar lá na frente, o mercado não levaria a sério. "Nosso histórico não nos credencia para fazer promessa de sacrifício futuro", afirmou no evento da Modalmais.
Se o esforço de vacinação fosse mais competente, disse Viana, a sinalização seria de um auxílio mais curto, o que poderia ser mais facilmente aceito pelo mercado.
Os economistas em Nova York do Citigroup alertam que o barulho político pode aumentar até a eleição para os comandos da Câmara e Senado, dia 1º de fevereiro. As declarações recentes em favor de mais auxílio emergencial só reforçam a visão de que o teto de gastos será burlado este ano, da ordem de R$ 75 bilhões, destaca o banco americano. Além disso, o presidente Jair Bolsonaro vem perdendo popularidade.