O dólar teve dia de forte volatilidade nesta quinta-feira, 21, oscilando 17 centavos entre a máxima e a mínima. Pela manhã, a sinalização do Banco Central de que os juros podem subir em breve animou o mercado de câmbio e o dólar caiu a R$ 5,23. Nos negócios da tarde, preocupações fiscais falaram mais alto, após declarações dos candidatos apoiados pelo governo ao comando do Senado e da Câmara em defesa do auxílio emergencial, mesmo que isso acarrete a violação do teto de gastos. Com isso, a moeda americana foi a R$ 5,40.
Novamente, o real foi a moeda com pior desempenho ante o dólar no mercado internacional, considerando as 34 divisas mais líquidas.
No fechamento, o dólar à vista acabou terminando o dia um pouco distante das máximas, em R$ 5,3641, com valorização de 0,98%. No mercado futuro, o dólar para fevereiro subiu 1,12%, a R$ 5,3520.
Os dois candidatos ao comando do Congresso apoiados por Jair Bolsonaro, o deputado Arthur Lira (PP-AL), e o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), fizeram defesas de mais gastos sociais.
O último ainda fez declarações contra as privatizações. Lira foi mais contido e ainda falou que a base de beneficiários do auxílio emergencial deve ser enxugada. À tarde, após a reação negativa dos mercados, falou da necessidade de observar a "disciplina fiscal". Já Pacheco foi mais direto ao defender os gastos sociais e disse que o teto de gastos não pode ser "intocado" e poderá ser revisto.
"Nos preocupa a tendência de termos debates fiscais delicados, por conta da situação social, que é importante olhar com atenção. Mas infelizmente não temos condição de manter os estímulos do ano passado", disse a economista da Itaú Asset, Mirella Sampaio em live da Moldamais na tarde desta quinta. Para ela, a discussão do auxilio emergencial revela a dificuldade de fazer políticas sociais do Brasil dentro da nossa situação fiscal, que é delicada. A trajetória crescente do endividamento causa preocupação, disse ela, ressaltando que é difícil neste momento ver a dívida cair.
Para a economista-chefe da ARX, Elisa Machado, a questão do auxílio coloca o governo em uma espécie de encruzilhada. Retirar totalmente a medida pode afetar a ainda incipiente retomada da economia. Manter o benefício é complicado por causa da situação deteriorada das contas fiscais. "Dentro do orçamento o cobertor é curto", disse ela no evento da Modalmais. Na visão da economista, para prorrogar o auxílio sem gerar mais ruídos no mercado, Brasília precisa mostrar uma "história bem contada" de que não haverá descontrole fiscal. "Não vejo como enfrentar 2021 sem algum auxílio pelo lado da demanda."
Antes das declarações dos parlamentares, o sócio da Gávea Investimentos, Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, já havia afirmado estar pouco otimista com a perspectiva de reformas para este ano. O Brasil tem um nível de endividamento elevado e a perspectiva de correção de rumo nessa área "não parece das mais positivas", disse ele em evento da Fitch Ratings. "Minha expectativa é que o governo vai ser reativo, se problemas se mostrarem mais graves, aprova."