O dólar teve a décima sessão consecutiva de alta e fechou pela primeira vez no nível de R$ 4,50. A moeda americana já havia atingido este patamar durante os negócios em outros dias, mas nunca fechado neste nível. No mercado à vista, a divisa encerrou a terça-feira, 3, em alta de 0,55%, a R$ 4,5117. O real teve novamente o pior desempenho ante a moeda americana no mercado internacional, considerando uma cesta de 34 moedas.
Em dia marcado por forte volatilidade, o dólar chegou a cair para R$ 4,45 logo após o corte surpresa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), no início da tarde, mas voltou a subir em seguida com a piora do mercado internacional, que quer estímulos adicionais, e a perspectiva de mais reduções de juros também aqui para fazer face aos efeitos do coronavírus. Pesquisa do Projeções Broadcast mostra que alguns economistas já trabalham com redução da Selic na reunião de política monetária de março de 0,50 ponto porcentual.
O banco americano Goldman Sachs reduziu a previsão de crescimento do Brasil este ano para 1,5% e passou a prevê dois cortes de juros, reduzindo a Selic para 3,75% até dezembro. Na avaliação do economista-chefe para América Latina do Goldman, Alberto Ramos, um dos fatores que explica o câmbio mais pressionado no Brasil é justamente o juro baixo, o que reduz a atratividade do país.
Para o estrategista-chefe da Infinity Asset, Otavio Aidar, a chance de o Banco Central cortar juros aumentou após o corte extraordinário do Fed. Mas ele observa que vários outros países ao redor do mundo, desenvolvidos e emergentes, também estão reduzindo taxas, portando a redução do diferencial de juros não explica sozinha a disparada do dólar.
O real tem sido sistematicamente a moeda com pior desempenho, ressalta o estrategista. Mesmo países com menor crescimento e juros que o Brasil e sem histórico recente de aprovação de reformas estão com câmbio menos depreciado, destaca Aidar. Modelos da Infinity Asset indicam que um câmbio mais condizente com os fundamentos do Brasil seria, dependendo do que se leva em conta, entre R$ 4,00 e R$ 4,20. "O câmbio parece muito esticado em relação aos fundamentos."
Na avaliação do estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, a tendência é do dólar se estabelecer acima de R$ 4,50 e tem chance até de alcançar patamares maiores, em meio a aversão a risco internacional, a taxa de juros baixa e um ambiente político ruidoso, que, nos últimos dias, elevou as dúvidas sobre a capacidade do governo em avançar com as reformas. "É um ambiente de bastante incerteza. Realmente preocupa a alta do dólar que no dia em que o Fed corta 0,50 ponto porcentual em uma reunião extraordinária, sugere que a moeda está sem suporte", diz Rostagno, lembrando ainda da piora das transações correntes.