O real teve o melhor desempenho nesta terça-feira, 2, ante o dólar no mercado internacional, considerando 34 moedas mais líquidas, refletindo a vitória do governo nas eleições do Congresso. A avaliação dos participantes do mercado é que o ambiente ficará mais propício para o avanço de reformas. Com isso, a moeda brasileira, que havia sido penalizada nos últimos dias pela piora do risco fiscal, recuperou nesta terça parte das perdas. Operadores relataram ainda a entrada de fluxo externo, o que também ajudou a retirar pressão do câmbio, além do exterior mais favorável, por conta das notícias positivas sobre vacinas contra a covid-19 e perspectiva de aprovação de novo pacote fiscal nos Estados Unidos.
No fechamento, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 1,74%, cotado em R$ 5,3548. No mercado futuro, o dólar para março caiu 1,20%, a R$ 5,3705.
"A impressão é que chegamos a um momento mais positivo para reformas", afirma o estrategista-chefe e gestor de moedas da Infinity Asset, Otávio Aidar, ao comentar as vitórias do deputado Arthur Lira (PP-AL) para comandar a Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para o Senado.
Para Aidar, aparentemente, há agora um alinhamento de interesses mais claro e mais direto entre o governo e o Congresso. "Não faltam projetos do governo, mas não são projetos impossíveis, tem a PEC Emergencial, que facilita muito o cenário". Momentos recentes do Congresso mostraram que o pior cenário é quando o presidente da Casa e o presidente da República não se entendem, o que gera constantemente ruídos e incertezas.
Apesar da melhora nesta terça, o real ainda está muito distorcido na comparação com seus pares. Nos últimos 12 meses até o final de janeiro, o dólar sobe perto de 30% ante o real, na comparação com altas ao redor de 6% a 7% perante divisas como o rand da África do Sul e o peso mexicano. O mercado de câmbio brasileiro, destaca o estrategista da Infinity, tem sido um dos mais sensíveis à piora do risco fiscal. Assim, com a atenuação do temor fiscal, o real tende a se alinhar mais a seus pares.
Os estrategista de moedas do banco de investimento americano Brown Brothers Harriman (BBH) avaliam que o real pode se recuperar muito, com o avanço das reformas e o Banco Central mais propenso a subir os juros. A vitória dos candidatos do governo ajuda a reduzir a instabilidade política e remove um risco que estava impedindo os ativos brasileiros, principalmente o câmbio, de acompanharem outros emergentes, ressalta ele.
Na tarde desta terça, Pacheco afirmou que pretende viabilizar a aprovação do Orçamento de 2021 até março. Já Lira sinalizou a intenção de votar o texto na Câmara em fevereiro. As declarações dos dois vêm agradando as mesas de operação. Para os estrategistas em Nova York do Citigroup, Lira e Pacheco ganharam por ampla margem e devem ajudar no curto prazo a melhorar a coordenação do governo com os parlamentares, o que viabilizaria a aprovação de reformas, além de reduzir o clima de instabilidade e ruídos que pairava em Brasília.