O mercado de câmbio teve uma manhã de tensão, com intervenção do Banco Central e dólar batendo em R$ 5,53, em alta perto de 3%, repercutindo a decisão de Jair Bolsonaro de mudar o comando da Petrobras, dúvidas sobre o ajuste fiscal e exterior negativo. Nos negócios da tarde, o clima se acalmou um pouco e a moeda americana reduziu o ritmo de alta, segundo operadores, refletindo um movimento de correção dos exageros de mais cedo e realização de ganhos. A avaliação nas mesas de operação é que o câmbio vai seguir sob pressão nos próximos dias.
O dólar à vista fechou em alta de 1,27%, a R$ 5,4539, maior nível desde 29 de janeiro. No mercado futuro, o dólar para fevereiro subiu 1,57%, a R$ 5,4690. No final do dia, o peso mexicano acabou superando o real como moeda com pior desempenho hoje ante o dólar, considerando uma cesta de 34 divisas mais líquidas. "Durante a tarde foi passando um pouco o exagero, teve um pouco de realização após a forte alta", afirma o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem.
A segunda-feira começou com uma tempestade perfeita no mercado: exterior negativo, com temor de piora da inflação mundial e, no mercado doméstico, a mudança na Petrobras e promessa de Bolsonaro de mais medidas populistas pela frente reforçou a visão de piora fiscal e atrasos nas reformas. Para piorar, declarações em Brasília afirmaram que primeiro deve vir o auxílio emergencial para depois vir o corte de gastos.
O reflexo foi que o Banco Central precisou intervir para acalmar os ânimos dos investidores, vendendo ao todo US$ 3,6 bilhões, ajudando a dar certo alívio. No final da manhã, vendeu US$ 1 bilhão em swap (espécie de venda de dólar no mercado futuro), em dinheiro novo. Antes, havia feito leilão de linha (venda à vista de dólar com compromisso de recompra) de US$ 1,6 bilhão, para rolagem de contratos de março. E depois fez mais US$ 800 milhões em swap, também para rolagem.
Para Priscila Robledo, economista de América Latina em Nova York da Continuum Economics, consultoria de Nouriel Roubini, a tendência é de mais pressão no câmbio e nos juros pela frente por conta da interferência do governo na Petrobras. Há ainda o risco de afetar a confiança dos investidores, podendo assim ter impacto negativo na atividade econômica. "A decisão de substituir Castello Branco é negativa na medida em que a intenção de interferir na Petrobras fica clara. E a ameaça de que também haverá interferência no setor elétrico claramente não ajuda", comenta ao Broadcast.
"A troca do comando da Petrobras tem sido vista por muitos analistas como uma inflexão na gestão econômica do governo, o que aumenta a incerteza e potencializa a volatilidade do mercado", afirma o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, em áudio. Para piorar, no exterior, ele ressalta que cresce a preocupação de que a volta da inflação possa levar os bancos centrais a retirarem parte dos estímulos extraordinários injetados na pandemia. Isso tende a fortalecer o dólar e aumenta a percepção de risco em relação a mercados emergentes, ressalta ele.