Variedades

Daniel Buren participa da SP-Arte

Resumos biográficos de artistas plásticos costumam dizer que “fulano vive e trabalha na cidade tal”. Apesar de oficialmente morar em Paris, cidade em que nasceu, em 1938, Daniel Buren prefere o “vive e trabalha in situ” – quer dizer, sua residência é onde suas obras o levarem.

Em março, foi o Rio, onde criou uma obra instalada na claraboia da filial carioca da Galeria Nara Roesler, em Ipanema. A intervenção, que projeta cores no chão sob a incidência do sol em placas de vidro transparentes, é o ponto final da exposição Cores, Luz, Projeção, Sombras, Transparência – Obras in Situ e Situadas.

“Trabalho há mais de 50 anos assim: 95% das obras não podem ser movidas para outro lugar. Um trabalho nunca será igual a outro. A cidade onde vai ficar não importa diretamente, não pensei em cor por ser no Brasil”, explica o artista conceitual, que agora em abril vai expor uma obra feita para o terceiro andar da SP-Arte, o Open Plan, novo setor dedicado a esculturas, instalações e site-specifics de artistas de renome, brasileiros e internacionais.

“Não tenho nenhum tipo de pensamento preestabelecido. Chego e improviso. Na claraboia, por exemplo, usei vidro, como se usa em qualquer lugar que você vá no mundo, a não ser nos iglus na Groenlândia”, brinca Buren.

Nos dois andares da Nara Roesler, estão obras igualmente coloridas, e todas com as listras verticais de 8,7 centímetros às quais ele é fiel desde os anos 1960. As mesmas medidas foram usadas na instalação de 1986 na área externa do Palais Royal, em Paris, na Staatsgalerie de Stuttgart, em 1990, e na série de birutas fincadas em Le Coq en Pate, em Bruxelas, em 2009.

Mas não se trata de uma “marca registrada”, adverte Buren – conhecido como “o cara das listras”, pela recorrência do recurso visual em sua trajetória, e pela poética econômica em elementos: “As pessoas dizem o que querem e não tenho interesse por isso. Apontam e falam: Se tem listra, é Buren…”, desconversa, enfadado.

“Não tem nada a ver com o conceito de marca registrada, a expressão está errada. A marca registrada, como a grafia da Coca-Cola, não é sempre a mesma, pode ter tamanhos diversos. Minhas listras são sempre iguais. Para mim, são uma ferramenta visual. Como especificidade não tem sentido algum. É como uma metragem. No início da minha carreira, era diferente, usava mais como pintura. Não sabia que continuaria usando mais de 50 anos depois”, avalia ainda o artista.

Além das listras e da cor, o uso das transparências e dos jogos de luzes e de espelhos também fazem parte do repertório artístico de Buren, famoso principalmente por suas instalações ao ar livre na Europa e pelo apreço pela desobediência. Formado em artes em 1960, ele largou a pintura pouco depois pela arte conceitual. Audacioso, passou a levar obras a lugares públicos na sequência, muitas vezes sem autorização prévia. A preferência pelas site-specifics vem dessa época.

No Brasil, trabalhou pouco: veio a duas Bienais de São Paulo, em 1983 e em 1985, e, em 2001, expôs no Centro Municipal Helio Oiticica, no Rio. Seu nome, com o do norte-americano Michael Asher, do belga Marcel Broodthaers e do alemão Hans Haacke, entre outros, é associado à crítica ao confinamento da arte a museus e galerias, a chamada Crítica Institucional, disseminada principalmente no fim dos anos 1960.

“O que as pessoas entendem por Crítica Institucional é totalmente absurdo, relacionam cinco ou seis nomes como se fosse uma escola, uma academia, sendo que nós nem nos conhecíamos”, aponta ele. “Mas ainda é válido criticar as instituições, apesar de elas terem mudado muito. Se você não sabe o que acontece nelas, vai cair nas armadilhas”, acrescenta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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