Chegou ao fim na quarta-feira, 13, uma busca ostensiva por Danilo Cavalcante. O brasileiro de 34 anos estava foragido no Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, após fugir da Prisão de Chesco, no Condado de Chester, no dia 31 de agosto. Centenas de policiais, cães farejadores, helicópteros e drones estiveram envolvidos em uma busca que vasculhou terrenos arborizados e terras agrícolas por quase duas semanas.
Esta não foi a primeira fuga de Cavalcante. A sua própria ida aos Estados Unidos, em 2018, foi possivelmente uma tentativa de escapar de um mandado de prisão ativo no Brasil. Confira abaixo a ordem de fatos entre o primeiro crime de Cavalcante, em 2017, até o momento da sua captura, na quarta-feira.
<b>O crime no Brasil</b>
Antes de ser procurado pela polícia dos Estados Unidos, Danilo Cavalcante já era considerado foragido pela Justiça brasileira. Em 5 de novembro de 2017, ele matou a tiros Valter Júnior Moreira dos Reis, em Figueirópolis, uma cidade de cerca de 5 mil habitantes situada no interior do Tocantins, a cerca de 260 km de Palmas. O crime ocorreu na frente de um trailer de lanche, pouco depois da meia-noite de um sábado. O motivo foi uma dívida não paga por uma conserto de um carro.
Cavalcante havia se mudado para essa região pouco mais de um ano antes do assassinato, chegando com a mãe e o irmão do Estado vizinho do Maranhão, segundo moradores. Ele trabalhava em uma fazenda próxima chamada Mula Preta, cuidando de gado e maquinário. Sua família comprou um terreno numa comunidade rural vizinha, onde criava gado e cavalos.
Após o assassinato, ele desapareceu. A primeira vez em que Cavalcante escapou da Justiça, ele encontrou refúgio na periferia rural de Figueirópolis, e se escondeu em uma fazenda a menos de uma hora da cidade, segundo moradores locais. Os promotores estaduais disseram que um mandado de prisão contra ele foi emitido em 21 de novembro de 2017.
Depois de fugir da cena do crime, Cavalcante escondeu-se por várias semanas antes de chegar aos Estados Unidos em janeiro de 2018, disse sua mãe.
<b>O assassinato da namorada</b>
Nos Estados Unidos, Cavalcante começou a namorar com Débora Brandão, de 33 anos, também brasileira, natural do Maranhão, mãe de duas crianças. Cavalcante tinha um histórico de violência doméstica, segundo os promotores, e começou a se tornar abusivo com a namorada ao longo do relacionamento, de acordo com testemunhas.
Segundo investigação, Cavalcante matou a namorada depois que ela soube que havia um mandado de prisão contra ele em aberto no Brasil. Os detetives concluíram que o assassinato ocorreu depois que ela ameaçou denunciá-lo à polícia.
Deborah foi morta com 38 facadas no dia 18 de abril de 2021, na cidade de Phoenixville, no Estado da Pensilvânia. Ela foi morta na frente de seus dois filhos, de 4 e 7 anos, em agosto de 2021, na casa dela em Schuylkill Township. Na época, ela morava nos Estados Unidos havia cerca de cinco anos com os dois filhos. Depois de matá-la, Cavalcante tentou fugir, chegando até a Virgínia antes de ser preso.
<b>O julgamento</b>
No dia 16 de agosto deste ano, um júri condenou Cavalcante por homicídio em primeiro grau pelo assassinato de Deborah. O crime, na Pensilvânia, acarreta em prisão perpétua sem liberdade condicional, de acordo com o Gabinete do Procurador Distrital do Condado de Chester. O júri levou 15 minutos para condenar Cavalcante.
<b>Fuga da prisão</b>
Danilo Cavalcante fugiu da Prisão de Chesco, no Condado de Chester no dia 31 de agosto. O homem escapou dos guardas da prisão em West Chester antes das 9 horas da manhã, e foi visto quase uma hora depois caminhando em uma estrada próxima ao presídio, segundo as autoridades. Em um vídeo divulgado após sua fuga, o preso é visto se escondendo no pátio, antes de escalar duas paredes com agilidade e desaparecer pelo teto.
<b>Avistamentos</b>
Cavalcante deu início a uma intensa jornada de fuga de 14 dias, na qual foi flagrado diversas vezes por moradores da Pensilvânia. A maioria dos avistamentos se concentrou em um perímetro de 30 quilômetros da Prisão de Chesco, de onde fugiu. Ele chegou a ser visto em um jardim botânico, em um riacho, na varanda de uma casa, entre outros lugares.
No domingo, 10, ele foi flagrado por uma câmera de segurança sem barba e dirigindo um veículo branco. Já na noite de segunda-feira, dois dias antes de ser pego, um motorista alertou a polícia sobre um homem agachado na escuridão perto de árvores. A polícia encontrou pegadas e as rastreou até os sapatos da prisão idênticos aos que ele usava. Um par de botas de trabalho foi roubado de uma varanda próxima.
A polícia estadual disse acreditar que ele estava procurando um lugar para se esconder quando viu uma garagem aberta. Lá, ele roubou um rifle calibre 22 e munições e fugiu quando o dono da casa, que estava na garagem, sacou uma pistola e atirou nele diversas vezes, disse a polícia estadual. Isso levou centenas de policiais a revistarem uma área de cerca de 21 a 26 quilômetros quadrados perto de South Coventry Township, cerca de 50 quilômetros a noroeste da Filadélfia. Cavalcante foi capturado logo dentro do perímetro de busca.
<b>A captura</b>
O primeiro possível sinal de Cavalcante que alertou as autoridades foi um alarme de roubo pouco depois da meia-noite de terça-feira, 12. A equipe policial investigou o alarme e não encontrou o brasileiro, mas o alarme atraiu equipes de busca próximas para a área. Um avião com uma câmera de imagem térmica sobrevoou a área e captou um sinal de calor. Os buscadores em terra começaram a rastrear e cercar o local.
Ainda armado com o rifle, ele tentou escapar rastejando pela vegetação rasteira, mas um cão farejador o dominou. Cavalcante foi mordido no couro cabeludo e sofreu um ferimento leve. Nenhum tiro foi disparado.
O brasileiro foi levado para um quartel da polícia estadual próximo em um veículo blindado cercado por um comboio com luzes piscando e sirenes tocando enquanto viajava pela rodovia. Dois helicópteros da polícia seguiram acima.
Cavalcante foi denunciado no quartel de Avondale sob acusação de fuga, segundo o gabinete do juiz Matthew Seavey. Uma audiência preliminar foi marcada para 27 de setembro. Ele foi levado com as mãos e os pés descalços algemados, vestindo o que parecia ser uma bata de hospital. O brasileiro foi levado a uma prisão estadual nos arredores da Filadélfia para continuar cumprindo a pena de prisão perpétua pelo assassinato de sua namorada.
<i>(Com agências internacionais)</i>