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Danilo Ramalho – Um pouco de luz à discussão sobre o Calçadão da Tapajós

Há um debate atual sobre a construção de um calçadão na Rua Tapajós, a “rua dos bares” de Guarulhos. Momento em que há polêmicas a respeito deste tema, quero trazer uma luz ao debate. De um lado o potencial de um novo desenho urbano e, de outro, a resistência frente aos impactos negativos desta construção.
 
Já não é novidade a intenção de se criar uma calçada mais larga aos moldes de ruas temáticas espalhadas em diversas cidades turísticas. Em 2002 eu estava presente em uma destas discussões na Tapajós. Haviam empresários entusiastas com a mudança, alguns sem expressar opinião e outros reticentes com receio do aumento dos aluguéis já nada baratos desta rua. A ideia não prosperou, mas o assunto sempre volta dado o protagonismo da rua Tapajós, com sua capacidade de se reinventar e criar novos estabelecimentos, cada vez mais atraindo clientes.
 
A construção do calçadão trará um mobiliário urbano que favorece o pedestre, o que garante maior conforto ao passeio público. Em outras palavras, a rua fica mais bonita, segura e romântica. Basta andar por lá hoje para constatar suas calçadas estreitas e esburacadas. Neste cenário é comum os pedestres utilizarem a rua para se descolar, concorrendo com os carros num tráfego intenso.
 
A boa notícia do calçadão é que ele pode tornar mais seguro e acessível o andar pela pequena rua. Outro grande problema é a dificuldade de se estacionar o carro. Acredito que o desenho do calçadão poderia também ser aproveitado para criar mais vagas em sentido 45°. Hoje, como mão dupla, os carros param nos dois sentidos estreitando ainda mais a passagem. Uma inteligência urbanística resolveria isso. Com mais espaço para o caminhar, mais vagas para carros, um trânsito inteligente pensado para ser mais tranquilo, são na verdade convites para a chegada de clientes. 
 
Mais clientes, mais receitas, mais impostos arrecadados, mais negócios prosperando, maior valorização dos imóveis e entorno. Além disso, a melhoria estética, outro fator positivo e muito importante para o desenvolvimento do turismo e imagem da cidade. Campos do Jordão e Gramado, dois grandes destinos turísticos, nos mostram que a construção de mobiliários urbanos diferenciados encantam turistas e moradores, que falam com orgulho de suas cidades.
 
Contudo, alguns aspectos também são considerados: a especulação imobiliária proveniente da valorização poderia aumentar os aluguéis. Esta é uma questão legítima, porém inexorável às condições naturais de mercado. Aos passos que os aluguéis aumentam, também se valorizam os fundos de comércio dos estabelecimentos. Em outras palavras, “o ponto” também se valoriza. Neste cenário só sobra lugar aos mais competentes em negociar e vender.
 
Lembro de histórias da construção do calçadão da Dom Pedro II. Basta consultar o Arquivo Histórico com jornais da época para ver como os empresários locais reagiram. Eles foram contra a construção, chegando a fazer abaixo-assinado contra a prefeitura. Anos se passaram e o comércio antigo foi substituído por lojas de grandes redes, magazines, com propostas de negócios altamente profissionais. O calçadão cresceu, gerou riqueza, multiplicou a vinda de clientes – inclusive de fora de Guarulhos. Basta ver os ônibus intermunicipais que chegam ao Centro vindos de Itaquá, Arujá… trazendo divisas à cidade. É mais perto vir ao Calçadão do que o Brás ou 25 de março. Quanta riqueza isso gera para Guarulhos? Além disso, empregou muito mais gente e continua a gerar bons frutos à cidade. Aos olhos de hoje, como seria o centro sem esse desenvolvimento?
 
Também temos que constatar que essa intervenção traz aspectos negativos aos moradores do entorno. Alguns condomínios já se manifestam contra a poluição sonora, que hoje incomoda e poderia ser ampliada frente ao novo movimento. Também argumentam sobre mais lixo e pessoas alcoolizadas na região.  
 
Como tudo na vida em sociedade as mudanças geram fissuras. Nós sabemos que experiências como estas, testadas e com sucesso em várias cidades, dão certo e levam a cidade a um caminho de desenvolvimento. Essa é a linha mestra que deve nortear a política e a medida para diminuir esses impactos é o estudo, o diálogo e a negociação.
 
Ainda que os aspectos positivos na balança se sobressaiam aos negativos, como posição pessoal, pensaria em realizar experiências. Algumas intervenções urbanas já podem ser realizadas. Melhorar a praça Júlio Ramos Barbosa (deixá-la mais bonita e iluminada), melhorar a coleta de lixo, reparar as calçadas, fazer a experiência de criar o calçadão temporário em alguns finais de semana. Fechar com cones e faixas e, aos poucos, ir medindo os impactos sonoros. Enfim, conquistar a confiança de todos tendo em mente o desenvolvimento de Guarulhos. É a realização aos poucos, mais trabalhosa, mas que no futuro traz resultados.
 
Sobre qualquer debate deixo o espaço para quem quiser discutir no Conselho Municipal de Turismo, onde já foi apresentado o projeto. Depois de analisado, deixamos como sugestão ao poder público que ouça mais os empresários afetados. Mas enfim, aos entusiastas e aos contrários, estamos à inteira disposição em colaborar com as políticas do município.
 
Danilo Ramalho é presidente do Conselho Municipal de Turismo de Guarulhos
 

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