O presidente da China, Xi Jinping, afirmou nesta segunda-feira, 17, que os fundamentos econômicos do país asiático continuam "resilientes" e reiterou compromisso com o processo de reformas e abertura da segunda maior economia do planeta. As declarações foram feitas em discurso durante o Fórum Econômico Mundial, que geralmente ocorre em Davos, na Suíça, mas é realizado virtualmente este ano por conta da pandemia.
"No ano passado, o nosso Produto Interno Bruto (PIB) cresceu aproximadamente 8%, atingindo o objetivo duplo de crescimento razoavelmente alto e inflação relativamente baixa", disse.
Xi Jinping admitiu que há "enormes pressões" nos ambientes doméstico e internacional, mas assegurou que o cenário de longo prazo não mudou. Segundo ele, porém, a despeito de fatores externos, Pequim pretende manter o ímpeto de reformas estruturais. "A China continuará deixando o mercado exercer papel decisivo na alocação de recursos", assegurou.
O presidente chinês acrescentou que o governo "consolidará" o setor público, ao mesmo tempo em que apoiará e incentivará o desenvolvimento de entidades privadas. O objetivo, disse ele, é criar um sistema em que todos as empresas tenham as mesmas oportunidades e operem em condição de igualdade perante a lei.
"A China dá as boas-vindas a todos os tipos de capital para operar legalmente no país e desempenhar um papel ativo no desenvolvimento da China", destacou o líder, que reforçou intenção de desenvolver a Iniciativa do Cinturão e Rota da Seda.
<b>Prosperidade comum</b>
Durante o pronunciamento, Xi Jinping ressaltou os alicerces da chamada "Política de Prosperidade Comum". De acordo com ele, a intenção é obter um desenvolvimento econômico "de alta qualidade" e "vencer a batalha contra a pobreza".
"A prosperidade comum que desejamos não é igualitarismo. Para usar uma analogia, primeiro vamos aumentar a torta e, depois, dividi-la por meio de arranjos institucionais razoáveis", explicou. O chefe do governo chinês ainda comentou que os progressos econômicos não podem esgotar os recursos naturais e destruir o meio ambiente. Por isso, o país buscará reduzir "gradualmente" fontes de energia tradicional em favor de opções alternativas.
"A China realizará ativamente a cooperação internacional no enfrentamento das mudanças climáticas e promoverá conjuntamente uma transformação verde abrangente do desenvolvimento econômico e social", pontuou.
<b>Covid-19</b>
Xi Jinping também instou a comunidade internacional a fortalecer a cooperação para derrotar o coronavírus e promover a rápida recuperação da economia global. Ele informou, ainda, que o gigante asiático já enviou cerca de 2 bilhões de doses de vacinas para mais de 120 países e prometeu fornecer mais 1 bilhão aos países africanos, incluindo 600 milhões doações. "Também vamos doar 150 milhões de doses a países asiáticos", destacou.
O presidente chinês acrescentou que a crise sanitária se mostrou "prolongada" e que, portanto, continuará tendo repercussões econômicas. Entre os efeitos, ele citou os gargalos nas cadeias produtivas industriais e a escalada dos preços de commodities. "Esses riscos se acumulam e intensificam as incertezas quanto à recuperação econômica", ressaltou.
Xi Jinping afirmou que os riscos inflacionários aumentaram no mundo e alertou que, se economias desenvolvidas concretizarem a guinada ao aperto monetário, haverá consequências e desafios à estabilidade, sobretudo para países em desenvolvimento. "Os principais países desenvolvidos devem adotar políticas econômicas responsáveis, controlar os efeitos colaterais das políticas e evitar impactos graves nos países em desenvolvimento", pontuou.
<b> Guerra Fria </b>
No discurso, o presidente da China exortou o mundo a "abandonar a mentalidade de Guerra Fria" com objetivo de atingir uma "coexistência pacífica". Xi Jinping disse que o cenário global contemporâneo não é pacífico e chamou atenção para "comentários de ódio e preconceito". Segundo ele, o clima de confronto é "ineficiente" e pode ter "consequências desastrosas". "Ao se engajar no protecionismo e no unilateralismo, ninguém pode proteger ninguém e, no final, só prejudicará os outros", destacou.
O presidente não citou nominalmente os Estados Unidos, mas as declarações lembram críticas recorrentes da China sobre Washington. Nos últimos anos, as duas maiores economias do planeta entraram em rota de colisão em uma série de temas, entre eles direitos humanos e a soberania de Taiwan.
"Devemos aderir ao diálogo em vez do confronto, à inclusão em vez da exclusão, e nos opor a todas as formas de unilateralismo, protecionismo e todas as formas de hegemonismo e política de poder", reforçou.