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De Gonzaga a Beatles: as influências musicais de Gilberto Gil

Completando 82 anos neste 26 de junho, Gilberto Gil crava seu lugar como um dos nomes mais importantes da música brasileira. Sua versatilidade, olhar – e ouvidos – apurados para diferentes manifestações musicais influenciaram diretamente em sua discografia, que vai do samba ao reggae, passando pelas guitarras do rock britânico à bossa nova do violão de João Gilberto. Essa capacidade de agregar o levou a trabalhar diretamente para a cultura brasileira, além de ser reconhecido pela Academia Brasileira de Letras.

Conheça algumas das referências de Gilberto Gil, que impactaram diretamente em sua obra:

<b>Luiz Gonzaga</b>

O primeiro encantamento de Gil pela música veio por meio de Luiz Gonzaga. Ele mesmo conta: "Lembro de vê-lo quando tinha 10 anos, na Praça da Sé, em Salvador. Estava apinhada de gente, 20 ou 30 mil pessoas, ele em cima do palco com aquele chapéu de cangaceiro. Foi avassalador! Se hoje sou músico, é por causa dele", escreveu nas redes sociais.

Além disso, a relação do baiano com a festa de São João parecia escrita nas estrelas, quase cósmica: Gil nasceu um dia depois da tradicional festa popular.

Gonzaga impactou a obra de Gil em diferentes momentos. Em 1985, dividiu o palco com o ídolo do baião, acompanhado por Dominguinhos, no show <i>Gil: 20 Anos-Luz</i>, organizado por Wally Salomão. Já em 2001, Gil lança o DVD <i>São João Vivo</i>, com sucessos do músico pernambucano.

<b>João Gilberto</b>

Depois de se encantar pela sanfona, Gil migrou para o violão – a vida dele, e da música popular brasileira, em certa medida – não seria mais a mesma. Ele diz que essa mudança de instrumento tem um responsável: João Gilberto.

O próprio João Gilberto tomou Gil como pupilo: gravou a composição dele, <i>Eu Vim da Bahia</i>, em 1973. Em homenagem ao eterno ídolo, Gil gravou o álbum <i>Gilbertos Samba</i>, reeditado pela Noize neste 2024, impactado diretamente pela obra do pai da bossa nova.

<b>Bob Marley</b>

Para Gil, Bob Marley foi fundamental para a música brasileira e para a criação de um novo gênero por aqui, o samba-reggae. no <i>Realce</i>, de 1979, Gil grava <i>No, Woman no Cry</i> – abrasileirada para <i>Não Chore Mais</i>.

Já em 1984, gravou com a banda de Marley, <i>The Wailers</i>, a faixa<i> Vamos Fugir</i>, que bebe diretamente da influência jamaicana. Em 2001, retornou ao país para gravar o álbum <i>Kaya NGan Daya</i>, com releituras de sucessos do ídolo, incluindo <i>Three Little Birds</i>, que ganhou um clipe adorável de animação e foi sucesso na MTV.

<b>The Beatles</b>

Caetano se diverte contando como Gil, nos idos dos anos 1960, foi correndo contar uma novidade que tinha ouvido: uma banda lá da Inglaterra, que tinha lançado um álbum inovador e lisérgico: eram os Beatles e o seminal <i>Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band</i> (1967). Para Gil, aquilo poderia reverberar com o que havia de mais brasileiro e popular na música. "Foi Gil quem propôs falar dos Beatles e da cultura de massa", Caetano, em entrevista à Ana de Oliveira.

Aquela capa – em que os jovens roqueiros emulam soldados coloridos, enquanto o Brasil enfrentava a Ditadura Militar – e aquele jeito de tocar guitarra poderiam se conectar com uma nova e jovem manifestação artística.

Depois, Gil conheceu os Mutantes que, de alguma maneira, emulavam aquilo que ele tinha escutado com os Beatles: o rock e a psicodelia. Daí, nasceu a Tropicália – o resto é história. "Gil tem essas intuições. Ele é muito articulado, muito brilhante", define Caetano.

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