Nesta semana, mais uma vez voltou à tona um tema que, para mim, já deveria estar encerrado há muito tempo. O Senado aprovou, em primeira discussão, Emenda Constitucional que torna obrigatório o diploma de jornalista. Ora, será que os senhores parlamentares não têm nada mais importante para fazer, não? Isso já é matéria passada e não tem cabimento uma profissão ter sua obrigatoriedade regida pela Constituição. Nenhuma outra é. E mesmo porque, como jornalista formado em uma universidade estadual, com diploma e tudo, nunca – em minha vida – defendi a obrigatoriedade de passar pela faculdade de Jornalismo para exercer a profissão. Vou citar aqui Reinaldo Azevedo, articulista da Veja, que fez um artigo primoroso sobre esse tema nesta semana. Entre outras primazias, Azevedo cita: “Até hoje, não há uma miserável coisa que eu tenha feito na minha profissão — e não posso reclamar da escolha — que me tenha sido dada ou ensinada pelo curso de jornalismo: NADA! ZERO! Já o curso de letras, penso eu, foi essencial para mim — como é o de medicina, arquitetura, direito, culinária etc para outros jornalistas. Sempre destacando que há os que não cursaram coisa nenhuma e fazem um trabalho brilhante. E há pessoas brilhantes que fizeram jornalismo.” Sei que essa minha convicção não é aceita pela imensa maioria dos colegas de profissão. Respeito a opinião de todos. Porém, não tenho a menor dúvida que estou certo em remar contra a corrente, nem que – em diversas oportunidades – tenha ficado falando sozinho numa mesa de jornalistas, quando todos vinham com facas e garfos em minha direção. Aliás, isso é frequente principalmente entre aqueles que camelaram pagando caro por uma faculdade, julgando que conquistaram um lugar ao sol por isso. Ledo engano. Ainda reproduzindo Azevedo, porque neste caso penso igual a ele – em gênero, número e grau. Essa luta insana em defesa do diploma não passa de um corporativismo barato, capitaneado por sindicalistas que – via de regra – nunca tiveram sucesso nas redações, justamente por não serem do ramo, mesmo ostentando seus lindos e belos diplomas. “A profissão requer duas coisas, além de formação intelectual — que os cursos de jornalismo não fornecem porque passam boa parte do tempo ocupados em ‘desconstruir’ os grandes veículos onde a meninada vai trabalhar depois… Jornalismo requer talento para a narrativa e um conjunto de procedimentos técnicos, alguns deles ligados à ética da profissão. E é preciso ter algo parecido com intuição, mas que é só questão de inteligência: saber onde está a notícia”, aponta o articulista com toques de genialidade. Creio que não preciso escrever mais nada. Ernesto Zanon Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo No Twitter: @ZanonJr