Após a ata do Copom e o IPCA-15 referentes a junho, ontem, e à espera de outros catalisadores importantes, como o relatório trimestral de inflação e a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), amanhã, o Ibovespa parecia, até o meio da tarde, a caminho de uma quarta-feira comportada: perto do zero a zero, oscilava menos de mil pontos entre a mínima e a máxima da sessão. Ao fim, o índice da B3, aos 116.681,32 pontos e em queda de 0,72% na sessão, mostrava a terceira perda consecutiva, acentuando correção abaixo da linha de 117 mil – cedida ainda no meio da tarde com a indicação de que o governo prorrogará a política de cortes de tributos para estimular debilitadas vendas das montadoras.
Assim, a referência da B3 fechou no menor nível desde o último dia 7, então aos 115.488,16 pontos, tendo encerrado a quarta-feira passada, dia 21, aos 120,4 mil, no maior nível desde 4 de abril de 2022 (121.279,51). Hoje, no fechamento, a variação entre a mínima e a máxima ia de 116.559,79 (-0,82%) aos 117.936,71, após abertura aos 117.524,21 pontos. O giro ficou em R$ 21,6 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa cai 1,93%, ainda avançando 7,70% em junho, com mais duas sessões para o encerramento do mês. No ano, o índice sobe 6,33%.
No meio da tarde, o movimento mais avesso a risco, que se refletiu também nos juros futuros, veio pouco depois de relato do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo estenderá o programa de redução de tributos para apoiar a venda de veículos, no dia seguinte ao anúncio da Volkswagen de férias coletivas, com o pátio da montadora repleto em São Bernardo do Campo (SP).
O governo deve editar ainda nesta quarta-feira, 28, uma medida provisória que irá ampliar o valor de recursos públicos separados para bancar descontos nos carros, segundo apurou o <b>Broadcast</b>. O plano é aumentar o montante apenas para os veículos leves, reportam as jornalistas Amanda Pupo e Célia Froufe, de Brasília. O programa entrou em vigor no início do mês, com descontos patrocinados pela União também para caminhões e ônibus – mas o crédito separado para essas categorias não teve procura tão alta como para os carros.
Inicialmente contrário ao projeto, o Ministério da Fazenda mudou o tom em relação aos descontos: agora, o programa é visto como um catalisador da renovação da frota nacional. Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, de O Globo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia antecipado que o programa de incentivo à compra de carros seria estendido.
"Bolsa caiu, dólar subiu e DI futuro também, muito por conta do medo de risco fiscal, que se acentuou após Haddad sinalizar mais estímulo à compra de carro zero. Mercado entende que o governo vai abdicar de mais receita, em injeção de dinheiro num setor que não é tão produtivo. Então, aumenta endividamento: a nova regra do teto de gastos prevê aumento de receita e o governo está abdicando disso, o que vai descasar lá na frente", diz Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.
"O mercado já tem batido no DI futuro, esperando que a inflação no Brasil vai arrefecer um pouco, mas que o governo continuará endividado, com reflexo nos juros, que poderão cair menos do que se antecipa", acrescenta Meira. Ele menciona também incertezas pendentes sobre os juros americanos, com espaço ainda aberto para nova alta na taxa de referência dos Estados Unidos, o que favorece a combinação de Bolsa para baixo e dólar para cima, no Brasil, enquanto o Federal Reserve busca fazer com que a inflação convirja para a meta, por lá.
"Comentários de autoridades de BCs importantes – como os dos Estados Unidos, Reino Unido e Zona do Euro – contribuem para formar consenso de que haverá novos aumentos de juros até o fim do ano no cenário internacional, o que contribui para manter os receios quanto a uma recessão, com juros altos – por mais tempo – sufocando a economia global", observa Alan Dias Pimentel, especialista da Blue3 Investimentos. Nesta semana, além dos catalisadores domésticos, como a ata do Copom e o IPCA-15, os investidores têm monitorado de perto as declarações de autoridades monetárias em seminário promovido pelo Banco Central Europeu (BCE) em Portugal.
Ainda assim, aqui, até a fala de Haddad, o "mercado vinha praticamente no zero a zero, dando continuidade a um movimento natural de realização de lucros, desde a semana passada, após a forte alta acumulada desde o final de março quando o Ibovespa vinha de mínima do ano, abaixo de 98 mil pontos, no encerramento do dia 23 daquele mês", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos. "O cenário se mantém favorável ao risco, mas algumas coisas ainda precisam se materializar – novos gatilhos no radar, como a reforma tributária", acrescenta.
Por outro lado, "sem dizer de onde sairão os recursos para renovar o programa de incentivo ao setor automobilístico, o mercado voltou a questionar o risco fiscal, sabendo que o governo é gastador e vai tentar sempre abrir brecha para não cumprir metas", aponta Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
No pior momento da sessão desta quarta-feira, os ganhos em Petrobras, em dia de avanço superior a 2% para o Brent e o WTI após queda maior do que a esperada para os estoques dos Estados Unidos na semana, pareciam a caminho de reversão. Mas, ao fim, a ação ON ainda mostrava alta de 0,73% e a PN, de 0,95%, na sessão. Tal efeito positivo, contudo, foi mais do que anulado pela queda de Vale (ON -3,16%, mínima do dia no fechamento) e dos grandes bancos (Bradesco PN -1,65%; Santander Unit -1,37%, mínima do dia no encerramento; BB ON -1,22%).
Na ponta perdedora do Ibovespa, frigoríficos como BRF (-4,27%), JBS (-4,22%) e Minerva (-3,25%) – segmento que havia sido beneficiado, ontem, pela liberação de carne que estava retida em portos da China. Bradespar (-3,70%), Dexco (-3,61%) e Natura (-3,23%) também foram destaque negativo nesta quarta-feira. No lado oposto, Yduqs (+4,63%), Embraer (+4,30%), Gol (+2,59%) e MRV (+2,11%).