Variedades

De volta à televisão, Marjorie Estiano busca tempo para lançar novo disco

A média de horas de sono caiu de uma hora para outra. Toda a rotina de Marjorie Estiano mudou repentinamente nos últimos dias. Chamada às pressas para ocupar novamente a vaga da vilã Cora – no lugar de Drica Moraes -, na novela Império, da Globo, a atriz se preparava para mais uma empreitada longe das telinhas. Dias e horas seriam dedicados ao show de lançamento de Oito, novo disco dela e o terceiro da carreira, um álbum responsável por interromper um período de sete anos sem novas gravações e maduro, do começo ao fim. A apresentação, marcada para o próximo sábado, às 22h, no Tom Jazz, em São Paulo, está na agenda, mas ganhou a concorrência das gravações da novela.

Nem mesmo a entrevista marcada com o jornal O Estado de S. Paulo passou livre do turbilhão. Se antes do retorno dela à televisão, na semana passada, o papo ocorreria por telefone, já que a atriz mora no Rio de Janeiro, após todo o ocorrido, a entrevista precisou ser feita por e-mail e com uma especificação clara: nada de falar de Império.

“Foi tudo muito rápido”, conta ela, sobre o retorno à personagem interpretada na primeira parte da novela, como uma versão mais jovem de Cora, depois vivida por Drica Moraes. “O Papinha (Rogério Gomes, diretor da novela) me chamou urgente para uma conversa, explicou toda a situação e, no dia seguinte, já estava gravando.” A capacidade de adaptação dos folhetins, segundo ela, ajudou na transação. “Novela é uma obra aberta que se constrói à medida que se desenrola e está sujeita a acontecimentos repentinos”, pondera, acostumada ao formato desde 2004, quando foi catapultada ao estrelato na estreia na TV Globo, com a personagem Natasha, em Malhação. “(Meu retorno a Império) foi um grande desafio para todos.”

Aos 32 anos, ela se reinventa na música da mesma forma do que como atriz. Se ela conseguiu se desvencilhar da teen Natasha aos poucos e encara papéis densos no teatro (Corte Seco, Inverno da Luz Vermelha e O Desaparecimento do Elefante) e cinema (como no recente Apneia, longa de estreia de Mauricio Eça, nos cinemas desde o início de novembro), na música, o intervalo de tempo entre os discos (sete anos) provoca um impacto ainda maior do que o simples visual dela na arte de capa.

Em Marjorie Estiano (2005) e Flores, Amores e Blablablá (2007), ela ainda ostentava os cabelos ruivos famosos na personagem da novela teen. As fotografias do novo encarte trazem um quê de Brigitte Bardot morena com Lana del Rey, roupas mais curtas e curvas à mostra. “É um recomeço de fato para mim. O meu primeiro álbum enquanto pessoa física. Os anteriores surgiram a partir da personagem que fiz em Malhação. O tempo age. Percebo principalmente mais paz, mais tranquilidade, menos desgaste, mais prazer hoje”, diz ela. “Muita coisa aconteceu na minha vida pessoal e profissional. São quase dez anos de lá pra cá. Uma mudança gradativa que se reflete nesse disco também.”

Oito é o título do novo disco e busca inspiração no símbolo do infinito, como algo que, segundo ela conta, é “contínuo, em fluxo e em movimento”. A Marjorie que se percebe ao longo das 11 faixas, sendo nove delas de autoria própria, é uma mutação constante. “Esse disco é, para mim, o retrato de algo em movimento.” Produzido por André Aquino – que também é responsável pelos arranjos e compôs, ao lado de Marjorie, quase todas as canções e assina sozinho a faixa Ele -, o álbum reflete a maturidade sonora da cantora, Explora novos sons e territórios até então inóspitos na carreira dela. De baião (com Alegria Maior Não Tem) ao reggae cantado em inglês (Driving Seat), passando por pop (Ele) e por participações especiais de Gilberto Gil (em Luz do Sol) e Martnália (A Não Ser o Perdão). Com o baiano, a paranaense Marjorie já havia dividido os microfones em 2007, na regravação de Chiclete com Banana, em Cidade do Samba.

“Ele ensina sem querer. Ele é a dica, é só observar”, derrete-se ela. “É uma fonte incomensurável de inspiração, de comportamento, de música de vida.
Entre umas choradinhas e umas risadas, um papo e outro, foi uma experiência que me moveu.” A faixa tem aquela cadência gostosa de um reggae baiano de Gil e mostra-se entre os destaque do álbum.

Oito não era, a princípio, um disco criado para ser tão autoral. No fim, foi. Marjorie e Aquino testaram cerca de 200 músicas até perceberem que o processo deveria partir dela. “Tinha feito umas letras antes, mas compor a música era muito mais fluido que a letra nesse processo. Foi um pouco angustiante abrir este novo canal e entendê-lo. Sou bastante racional e isso atrapalhava.”

As amarras próprias destruídas (ou afrouxadas), Marjorie parte para a turnê de Oito, na medida do possível diante da nova demanda de trabalho do retorno à TV. “Não posso dizer que me surpreendo com um volume de trabalho nesta proporção, ou mesmo com essa inconstância”, diz ela, já escolada quando o assunto é saltar entre música, cinema, teatro e, claro, a TV. “Tudo que estava programado continuará, com exceção de algumas atividades cotidianas e as mesmas horas de sono. Vai ser muito mais cansativo, mas estou muito feliz.”

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