Dois anos atrás, Thiago Ribeiro não tinha alegria nem na hora do gol. Achou esquisita aquela tristeza doída, que não passava de jeito nenhum, ficou preocupado com a falta de sono e de apetite e resolveu procurar ajuda psicológica. O diagnóstico foi direto: depressão. “Pensei que fosse morrer. Tinha pensamentos ruins e medo que pudesse fazer algo contra minha própria vida”, revelou o atacante do Santos, de 30 anos, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo.
O retorno à Vila Belmiro, no início deste ano, foi o fim de um ciclo difícil em que ele ficou sete quilos mais magro, perdeu velocidade e arranque, suas marcas registradas, e acabou encostado por cinco meses no Bahia. Hoje, ele diz que está curado.
Em outubro de 2014, meses antes de se transferir do Santos para o Atlético Mineiro, o jogador ficou preocupado quando ouviu o diagnóstico da boca de psicólogos e psiquiatras. Nunca tinha tido aquilo, não tinha nenhum problema grave de saúde e estava bem na vida pessoal.
André Pedrinelli, médico da seleção olímpica de futebol e da seleção brasileira de futsal, alerta para uma diferenciação importante entre a depressão, doença que o jogador sofreu, e os quadros depressivos, geralmente associados a motivos específicos, como a morte de uma parente ou um longo período de contusão no futebol. “Os quadros depressivos estão relacionados a grandes perdas. Já a depressão é uma doença e tem de ser vista como qualquer outra. Precisa de tratamento e tem cura”, disse o especialista.
O deprimido apresenta alterações químicas no cérebro ligadas à diminuição da serotonina, neurotransmissor do bem-estar e do prazer. O começo da depressão pode ser o estresse, principalmente naquelas pessoas com predisposição genética. Pelo menos uma em cada cinco pessoas no mundo apresenta o problema em algum momento da vida.
“A depressão é uma doença incapacitante porque ela mata sem matar. Humor, apetite, sono e libido ficam ruins. Não dá vontade conversar, sair e interagir com as pessoas. É uma angústia profunda”, explicou Pedro Katz, psiquiatra do hospital Samaritano e especialista da Associação Brasileira de Psiquiatria.
As palavras de Thiago Ribeiro sobre morte, lá no início, não são exagero. No limite, a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem assim a cada ano. É a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 e 29 anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, a organização vai focar o problema.
Thiago Ribeiro percorreu o calvário da depressão. Tomou antidepressivos e remédios para dormir ao longo de nove longos meses. Passou dos 75 quilos, seu peso ideal, para 67; perdeu o arranque e a resistência, características que o transformaram em um dos destaques do título brasileiro do São Paulo em 2006 e do Cruzeiro entre 2009 e 2011. Diferenciais que o levaram ao exterior, para atuar no Bordeaux e no Cagliari.
Como todos comparavam o Thiago são com o Thiago com depressão, ele ficou sem espaço no Atlético Mineiro e não conseguiu se firmar no Bahia também. Em três meses, disputou 21 jogos e fez apenas dois gols. Também foi prejudicado por uma longa lesão muscular que o tirou de combate por 40 dias. Estava fragilizado. Acabou afastado do Bahia por cinco meses até o término do empréstimo.
Funcionários do clube disseram que Thiago Ribeiro ficou com a imagem de um jogador que treinava pouco. “Ele chegou para fazer a diferença no time, mas decepcionou a todos”. Detalhe: por vergonha e medo do preconceito, o atacante não contou para ninguém sobre a doença. “Em nossa cultura, as doenças que estão na alçada da psiquiatria têm uma conotação diferente”, afirmou Pedrinelli.
Thiago Ribeiro só tomou coragem para revelar a sua depressão quando se sentiu curado, no ano passado. Além dos remédios, diz que uma mudança espiritual na vida (tornou-se evangélico) foi decisiva para sua recuperação. Acha que 2017 já está ganho por ter se livrado da doença.