Naquele clima de verão californiano eterno da série The O.C. (cujo título em português ganhou o acréscimo de Um Estranho no Paraíso), no ar de 2003 a 2007, o jovem Seth Cohen, interpretado por Adam Brody, atraía uma legião de fãs tão fiéis que, anos mais tarde, em 2013, o rapaz ainda era lembrado como “o rapaz ideal” – em 2013, por exemplo, o site Buzzfeed listou “37 razões pelas quais Seth Cohen é o namorado perfeito”. E entre as qualidades do rapaz, destacava-se uma em especial (além do romantismo, da candura, etc): o amor dele por uma banda indie, daquele tipo “só eu conheço e por isso eles são tão incríveis”, chamada Death Cab For Cutie.
Surgido alguns poucos anos antes, em 1997, como um projeto solo do vocalista e guitarrista Ben Gibbard, mas logo transformado em banda, o Death Cab For Cutie tinha nos versos de desamor besuntados por uma guitarra melancólica seu melhor apelo. Também contou a favor da banda o fato de lançar, no mesmo ano do início de The O.C., o melhor álbum da carreira deles (em escolha do próprio Gibbard), chamado Transatlanticism. Somadas a exposição da TV e a qualidade do álbum, fizeram o Death Cab For Cutie deixar de ser a pequena banda favorita do personagem Seth Cohen (virou queridinha por tantos), entrou para uma grande gravadora, a Atlantic Records, e vendeu suas boas centenas de milhares de álbuns.
O Death Cab For Cutie chega ao Brasil pela primeira vez como a mais fofa das atrações gringas desta edição do Popload Festival, mas também vive um momento de transformação próprio. Na apresentação a ser realizada no dia 15 de novembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo, o grupo exibirá sua versão transformada, criada a partir do álbum mais recente deles, Thank You for Today, um álbum feito a partir de uma reconstrução. Da banda, por causa da saída de um dos mais importantes integrantes da trupe, o guitarrista e também produtor dos álbuns Chris Walla. E pessoal, para Gibbard, ao deixar o universo de Hollywood que o engoliu anos antes ao se casar com a atriz (e também cantora) Zooey Deschanel – ele se reconstruiu, parou de beber álcool, iniciou o hábito de correr maratonas e se casou com a fotógrafa e empresária Rachel Demy, em 2016.
“O que Ben (Gibbard) escreve nessas músicas vem para ele nas suas vivências”, explica Nick Harmer, baixista da banda, integrante do Death Cab desde 1997, quando o projeto deixou de ser uma empreitada solo de Gibbard e participou de todos os álbuns, desde o cultuado Something About Airplanes (1998). “Então, é importante que a gente viva um pouco, entre as turnês, entende?” Harmer coloca, em palavras, o que o número de apresentações do grupo por ano já indicava sobre “viver a vida”. Nos anos de lançamento de disco, o número de performances ao vivo passa da centena. Depois, mínguam: no ano passado, foram 11, por exemplo; em 2018, somam 38.
Thank You for Today sucede Kintsugi (2015), disco cujo título indica esse momento de transição, de transformar o quebrado no novo: trata-se também do nome de uma técnica japonesa que une cacos de objetos de porcelana quebrados (vasos, pratos, copos) com uma cola dourada. “Foi um processo de transição importante”, relembra o baixista.
E o resultado dessa “reforma” não é exatamente igual ao original – e os fios de ouro a contornar os antigos cacos deixam o objeto ainda mais único. E assim é o Death Cab For Cutie de 2018, já diferente da banda alçada à popularidade entre o público jovem interessado em descobrir “a nova próxima sensação” no início da década passada. A maturidade chega em forma de canções (um pouco) menos melancólicas e, principalmente, com maior variedade rítmica – afinal, diferentemente do personagem de The O.C., preso no mundo da ficção, é preciso seguir o mundo que exige mudança, nos quebra, mas também oferece espaço para a reconstrução.
POPLOAD FESTIVAL
Memorial da América Latina.
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664. Dia 15 de novembro (5ª),
a partir de 12h. R$ 180/R$ 750
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.