Uma sugestão inusitada veio a público no Reino Unido hoje. Um dos principais defensores da saída dos britânicos da União Europeia (Brexit), o deputado Nigel Farage, cogitou a possibilidade de se realizar uma segunda consulta pública no país sobre o tema. Essa hipótese já foi descartada no passado de forma veemente pela primeira-ministra, Theresa May, após defensores da continuidade no bloco comum alegarem que o plebiscito de junho de 2016 teria um resultado diferente se a população tivesse em mente os reais impactos do divórcio para suas vidas. O Partido Trabalhista, a maior legenda de oposição, também se mostrou até agora contrário a uma nova rodada de consulta.
Pesquisas de opinião publicadas algumas vezes após o Brexit sair vitorioso apontaram que muitos britânicos poderiam votar de outra forma na consulta, pois, após a apuração, é que tomaram consciência do tamanho dos reflexos da saída do Reino Unido da UE, principalmente na área econômica. De qualquer forma, esses levantamentos de intenção mostram-se ainda muito divididos. A decisão pela retirada venceu por 52% dos votos contra 48%, com a Escócia votando a favor da permanência no bloco.
A proposta de Farage, apresentada hoje durante uma participação na cadeia de televisão Channel 5, serviria, segundo ele, para calar definitivamente os opositores do Brexit. “Chego a pensar que talvez, apenas talvez, eu esteja chegando ao ponto de pensar: devemos ter um segundo plebiscito … sobre a adesão à UE”, disse, acrescentando que não tem dúvidas de que a porcentagem de votos a favor da saída seria muito maior do que a consulta de 2016.
O argumento do ex-líder do Partido de Independência do Reino Unido (Ukip, na sigla em inglês) é o de que opositores ao divórcio, como o ex-ministro Tony Blair, teriam que aceitar o desejo da população de uma vez por todas com a confirmação nas urnas. “O que é certo é que os Cleggs, os Blairs, os Adonises nunca mais desistirão. Eles continuarão a perseguir, a chorar e a gemer durante todo esse processo”, criticou. “Poderíamos terminar com isso tudo, e Blair desapareceria”, continuou, voltando a citar um dos principais defensores de um novo plebiscito.
O Ukip, que nasceu em 1993, é um partido de direita e eurocético, e muitos de seus membros criticaram a sugestão de Farage. De qualquer forma, ninguém sabe ao certo como poderia se dar o mecanismo de um novo plebiscito. O que se tem até o momento é que o Reino Unido deixará a UE no fim de março do ano que vem. As próximas eleições gerais estão previstas apenas para 2022, já que Theresa May antecipou para junho do ano passado a votação, inicialmente aguardada para 2020, para ter mais força nas negociações com a Europa. Com o movimento, no entanto, seu Partido Conservador perdeu a maioria no Parlamento. (Célia Froufe, correspondente – [email protected])