Estadão

Defensora do blues, Diunna Greenleaf canta no Bourbon

A texana Diunna Greenleaf é uma guardiã do blues. Mais do que por aquilo que tem feito em seus shows – o mais recente deles foi no final de semana, em Paraty, como atração da 13ª edição do Bourbon Festival Paraty, realizado pela casa de shows de São Paulo, Diunna tem projetos voltados para a educação e a preservação da memória de seus ancestrais. O blues, para Diunna, pode cair em esquecimento em seu próprio país. "Vai acontecer exatamente isso (um apagamento histórico) se nada for feito pelo blues", ela diz, ao <b>Estadão</b>. "Minhas ações nas escolas são para evitar que as pessoas se esqueçam."

Diunna é uma estrela tardia. Ela tem 65 anos e seus discos disponíveis no Spotify se resumem a dois. Trying to Hold On, de 2011, e A Aint Playin, de 2022. Sua voz cheia de doçura revela sempre o berço gospel em que foi criado pelos pais Ben e Mary Greenleaf, devotos protestantes. Mas também muito da música pagã e das malandragens de rua cantadas por Sam Cooke, Sister Rosetta Tharpe, Koko Taylor, a mais "mundana de todas" e, claro, Aretha Franklin.

Sobre o blues de um lado e o gospel de outro, sua definição é precisa: "São como dedos de uma mesma mão. O blues fala do mundo de hoje, das durezas. O gospel fala da esperança do amanhã".

Diunna será a atração do Bourbon Street desta quarta, 19, quando estará acompanhada pelo grupo do excelente gaitista brasileiro Marcelo Naves, The Tigerman. Marcelo é também gaitista no grupo do guitarrista Nuno Mindelis. Ela encerra uma temporada que entremeou nomes importantes que já se apresentaram no Bourbon e no festival de Paraty desde o início do mês. Dentre eles estiveram Ivan Lins (que teve um começo muito próximo à soul music), a cantora norte-americana Jane Monheit, a banda Silibrina, do filho de Antonio Nóbrega, Gabriel, e o jovem pianista de New Orleans Kevin Gullage.

Sobre sua performance em Paraty, Diunna mostrou-se surpresa com o envolvimento do público. "Uma reação incrível, eles sabiam o que eu estava cantando". E isso talvez tenha a ver com a próxima pergunta.

Diunna não acredita que seja necessário nascer nos Estados Unidos para cantar blues com autenticidade. Para ela, o "lugar de fala" de um bluesman ou de uma blueswoman não está ligado ao lugar de nascimento, mas a um histórico de exploração, racismo e escravidão. "Qualquer pessoa que tenha sido oprimida será capaz de experienciar o blues como forma de expressão. Eu não acredito que você deva ser norte-americano para cantar blues. As pessoas pegam essas sensações quando vão aos shows, elas sentem o que aquelas canções dizem mesmo sem saber o que dizem as letras."

De volta às comparações entre gospel e blues, as duas vertentes que formam sua musicalidade, ela diz que as duas músicas falam para o mesmo Deus. "O blues expressa melhor o que vivemos no dia a dia, mas é o gospel quem vai te encorajar a falar de uma vida que pode ser melhor. O blues é mais terreno." O jazz entra na fala. Ela chama de "mais um dedo da mesma mão", mas responde que sim, as cantoras de blues seguem sofrendo preconceito com relação às cantoras de jazz. "O jazz, com mais apuro musical, tem outra aceitação. O mais doloroso (na mensagem) acaba sendo o blues, que revela com mais dureza o que foi a vida de uma pessoa negra nos Estados Unidos."

Diunna Greenleaf com Marcelo Naves e Tigerman
Bourbon Street. Rua dos Chanés, 127
4ª (19/4), 20h30. Couvert: R$ 65
Venda https://bileto.sympla.com.br/ bourbonstreet

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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