O empresário cerealista José Alberto de Castro, acusado de ser um dos mandantes da chacina de Unaí, vai assumir a participação no assassinato do fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego Nelson José da Silva, mas negar participação nas mortes de outros dois auditores, João Batista Lages e Erastótenes de Almeida Gonçalves, e do motorista, Ailton Pereira de Oliveira. A confissão, segundo o advogado do cerealista, Cleber Lopes, ocorrerá nesta quinta, 29, ou sexta-feira, 30, durante a fase de interrogatório.
Os quatro foram assassinados a tiros em 28 de janeiro de 2004, enquanto faziam auditoria em fazendas da região, que fica no Noroeste de Minas.
José Alberto e o fazendeiro Norberto Mânica, também acusado de ser mandante do crime, começaram a ser julgados em Belo Horizonte na terça-feira, 27. “Não queremos clemência, mas que José Alberto seja condenado apenas pelo que fez”, afirmou Lopes. A pena por assassinato é de 12 a 30 anos de prisão.
Na acusação do Ministério Público Federal (MPF), os quatro assassinatos são atribuídos aos quatro réus. Os outros acusados de terem encomendado o crime – Antério Mânica, ex-prefeito de Unaí e irmão de Norberto, e Hugo Pimenta – serão julgados respectivamente em 4 e 10 de novembro.
Na alegação da defesa, José Alberto teria participado da trama exclusivamente para o assassinato de Nelson, ao indicar Francisco Pinheiro, então morador de Formosa (GO), para a contratação de dois pistoleiros e um motorista para a realização do crime. Depois de acertar o preço, R$ 25 mil, o grupo passou a monitorar Nelson, que morava em Paracatu, a cem quilômetros de Unaí.
Dias antes da chacina, os pistoleiros avisaram aos mandantes que Nelson não estava trabalhando sozinho e que havia outras três pessoas na equipe do Ministério do Trabalho. Norberto, então, teria mandado matar todos, conforme depoimento de Hugo Pimenta, que fez delação premiada. José Alberto, diante disso, vai dizer no interrogatório que participou apenas da decisão de ordenar um assassinato.
Os pistoleiros contratados para cometer o crime, Rogério Allan Rocha Rios e Erinaldo Vasconcelos Silva, e o motorista da dupla no dia da chacina, Willian Gomes de Miranda, já cumprem pena. Francisco Pinheiro, que não chegou a ser julgado, morreu de acidente vascular cerebral na cadeia em 2013.
Na chacina, o veículo dos fiscais foi interceptado pelo carro dos pistoleiros que, depois de simularem um assalto, atiraram nos funcionários do ministério.
Hoje, no terceiro dia de julgamento, serão apresentados vídeos e gravações telefônicas incluídos no processo. Acusação e defesa terão três horas cada para apresentar o material. Na sequência, começa o interrogatório dos réus. A fase de depoimentos de testemunhas terminou ontem. A expectativa é que o julgamento termine nesta sexta-feira, 30.
As defesas de Norberto Mânica e de José Alberto tentaram impedir a exibição para os jurados de uma reportagem de televisão com aproximadamente 30 minutos de duração sobre a chacina. A alegação foi de que seria tempo demais. O Ministério Público se opôs e o juiz responsável pelo caso, Murilo Fernandes, determinou que a reportagem fosse apresentada.