Em posições invertidas, a defesa de Marco Polo Del Nero agora diz que não existem provas da suposta corrupção do presidente afastado da CBF e que as evidências se limitam a José Maria Marin, seu ex-aliado e que hoje vive em uma prisão de segurança máxima nos Estados Unidos. Esse é um dos principais argumentos que usarão os advogados de Del Nero diante da Fifa.
A entidade máxima do futebol deu até esta quinta-feira para Marco Polo Del Nero apresentar a sua defesa em Zurique, na Suíça. Nos documentos, eles argumentam que não existem, nas 1,3 mil páginas do processo contra o brasileiro, provas concretas de que o cartola tenha recebido recursos ilícitos, diferentemente do que teria sido produzido pelos procuradores americanos contra José Maria Marin.
A Fifa suspendeu Marco Polo Del Nero do futebol por 90 dias diante das referências à corrupção que foram feitas ao brasileiro durante o processo que julgou e condenou José Maria Marin em Nova York. Del Nero, segundo a procuradoria norte-americana, teria recebido US$ 6,5 milhões em propinas por contratos de TV e de torneios. O mesmo valor foi mencionado pelos procuradores dos Estados Unidos como propinas pagas a Marin.
Durante o julgamento em Nova York, eram os advogados de José Maria Marin que tentavam jogar a culpa para Marco Polo Del Nero, argumentando que era ele o real presidente da CBF em todo o período em que Marin esteve no suposto comando. Agora, as posições se invertem.
Para a defesa do presidente afastado da CBF, existem provas contra José Maria Marin, mas não contra Marco Polo Del Nero. Nas respostas, os advogados insistem que os documentos do processo não trazem provas que vinculem ou provem pagamentos direitos ou indiretos para Del Nero. Mas também deixam claro que a situação das provas de Del Nero é diferente daquela de Marin e mesmo de Juan Angel Napout, ex-presidente da Conmebol e também condenado nos Estados Unidos.
Ao longo de meses, a procuradoria norte-americana reuniu gravações telefônicas, grampos, planilhas e outros documentos que sustentaram a condenação de José Maria Marin. Várias testemunhas, porém, citaram textualmente a presença de Marco Polo Del Nero em reuniões que se estabeleceu o pagamento de propinas, assim como anotações e dados sobre as transferências ao brasileiro.
Em uma primeira etapa, a investigadora da Fifa, Maria Claudia Rojas, considerou que existem indícios suficientes para justificar um afastamento temporário do brasileiro. Mas uma decisão final fica por conta da Comissão de Ética da Fifa.
Uma audiência ainda terá de ser marcada nas próximas semanas para ouvir a defesa de Marco Polo Del Nero em Zurique, já que o brasileiro não tem condições de viajar sob o risco de ser preso e extraditado aos Estados Unidos.
Para os advogados, esse mesmo órgão, em dois anos e meio de supostas investigações contra Marco Polo Del Nero, não produziu uma só linha de provas contra o brasileiro. Tudo o que existe hoje contra ele foi “importado” de Nova York, o que para a defesa invalidaria uma decisão da Fifa, que precisaria produzir as suas próprias evidências.
POLÊMICAS – A polêmica promete se aprofundar nas próximas semanas. O órgão que julgará o brasileiro foi criado na primeira grande reforma da entidade, realizada pelo presidente da Fifa, o suíço Gianni Infantino. Mas a sua autoridade é alvo de controvérsias depois de que vários executivos e delegados da entidade abandonaram a Fifa acusando a gestão do novo presidente de impedir qualquer tipo de atuação independente de seus órgãos de controle.
Cornel Borbely, o ex-investigador, e o juiz Hans Eckert foram afastados pela Fifa em maio, apesar de seus cargos terem um caráter independente da presidência. Nos meses que se seguiram, outros também deixaram a entidade. Em uma carta aberta, três deles denunciaram o que de fato ocorria dentro da entidade: uma “interferência política endêmica”.
Agora, pessoas próximas a Marco Polo Del Nero veem uma vez mais o uso do órgão de forma direcionada contra o brasileiro como instrumento para aliviar a pressão que vive Gianni Infantino, que manteve por meses uma relação cordial com Del Nero.
No novo Comitê de Ética da Fifa, a CBF ainda conseguiu colocar no órgão Flávio Zveiter, o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e filho de Luiz Zveiter, também ex-presidente do STJD. O brasileiro, no caso de Marco Polo Del Nero, não poderá votar.