O ano de 2015 promete ser mais um período de forte pressão sobre o câmbio no Brasil, sendo que riscos externos e internos tornam a projeção para o dólar um verdadeiro exercício de futurologia. Por ora, os economistas estimam uma taxa média de R$ 2,71 durante o ano e de R$ 2,80 em seu encerramento, conforme a última pesquisa Focus do Banco Central. E todos concordam em um ponto: a taxa de câmbio seguirá volátil, com tendência de alta para o dólar – e não de baixa.
A despeito de o dólar mais forte ameaçar a inflação, economistas lembram que a elevação da moeda americana em 2015 será um fator de correção dos rumos da economia doméstica. “A gente sabe que o câmbio responde a desequilíbrios que são evidenciados no balanço de pagamentos. A conta corrente brasileira está com déficit de quase 4% do PIB e, por isso, é importante que o câmbio real se deprecie”, comentou o economista e professor da PUC-Rio, Márcio Garcia.
Sem dúvida, a evolução das contas externas é fator chave para o câmbio e os juros em 2015, concorda o coordenador do centro de macroeconomia aplicada da escola de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Emerson Marçal. Os dados mais recentes do balanço de pagamentos do País mostram que o déficit em conta corrente no acumulado de 2014 até novembro está em 3,98% do PIB. Em 12 meses, ele atinge 4,05%.
“O ajuste passa por, ou ter uma recessão, ou fazer uma depreciação da taxa de câmbio real, o que de certo modo já ocorreu. O dólar estava na faixa dos R$ 2,10, R$ 2,15 há alguns meses e, agora, está perto dos R$ 2,70”, destacou Garcia. No curto prazo, dependendo das notícias, você pode ter capital entrando no Brasil. Mas no médio prazo o dólar ainda vai andar um pouco “ou pelo menos ficar no patamar atual”. Para baixo, a moeda dificilmente vai.
Marçal acredita que a redução do déficit em transações correntes do País passa pelo ajuste fiscal do governo, mas também depende muito da política econômica internacional. “A política monetária dos EUA, assim como a inflação e o crescimento abaixo do esperado na zona do euro, no Japão e na China, deve contribuir para a valorização do dólar e para a queda das commodities, com impacto de baixa sobre o crescimento e as moedas de países emergentes e exportadores de matérias-primas”, comentou.
O aperto da política monetária dos EUA afetará a conta de financiamento (investimentos) do balanço de pagamento de países emergentes, como o Brasil, diz Marçal. Ele antevê que os investimentos estrangeiros podem diminuir para os emergentes, por conta da política dos EUA, afetando o IED e também as linhas de financiamento externo para empresas e bancos.
Outros riscos domésticos – como a incerteza sobre o que será feito, efetivamente, pela nova equipe econômica de Dilma Rousseff para resgatar a credibilidade do País e a crise na Petrobras – também podem desestimular o fluxo de entrada de recursos no Brasil. Marçal, da FGV, lembra que a estatal de petróleo possui importante necessidade de captação de financiamentos no exterior, mas o mercado lá fora tende a elevar o custo do crédito para a empresa. A Petrobras, assim como o País, corre o risco de ter suas notas de crédito rebaixadas por agências de classificação de risco internacionais. No dia 23 de dezembro, a Moody´s colocou os ratings Baa2 de crédito global em moedas estrangeira e local da Petrobras em revisão para possível rebaixamento.
Federal Reserve
O próprio mercado global já vem antecipando desde 2013 a possibilidade de alta dos juros americanos. Mas uma parcela considerável da pressão de alta sobre o dólar ainda virá neste início de 2015, até que o Fed anuncie, efetivamente, o começo do aperto monetário. “Não é tanto a alta de juros em si, mas a aproximação do evento, que tem impacto sobre o câmbio. Isso vai gerar alguma pressão em termos internacionais, com influência por aqui”, avaliou o economista da Tendências Consultoria Integrada, Silvio Campos Neto.
Para ele, o cenário desfavorável para as commodities também deve intensificar a valorização do dólar. “Moedas que ganharam muito em anos anteriores estão perdendo agora, diante da possível alta de juros nos EUA.”
Para o gerente da Correparti, João Paulo de Gracia Corrêa, é possível mais um período de “guerra cambial” nos mercados de moedas a partir do início do aperto monetário nos EUA, com ajustes nas taxas de câmbio desses países aos padrões aceitáveis, de acordo com suas políticas de juros.
No Brasil, segundo Corrêa, o que se busca é um patamar de câmbio de equilíbrio, que não prejudique a balança comercial nem pressione a inflação. Ele prevê que o dólar tenha picos de alta e diz que o BC terá que intervir em maior ou menor intensidade, para tentar controlar a volatilidade cambial e trazer a inflação à meta. “Ele vai usar a política de juros e de câmbio”, comentou.
Swaps
Para calibrar a taxa de câmbio, o BC voltará a contar com os leilões diários e com as operações de rolagem de contratos de swap cambial. Eventualmente, como sinalizou, o BC poderá voltar a atuar no mercado por meio de leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra).
A diferença neste início de 2015 é que a instituição cortou pela metade o volume diário oferecido em leilões de swap: no lugar dos US$ 200 milhões que eram disponibilizados em 2014, serão ofertados US$ 100 milhões. Além disso, o BC anunciou que o programa de swaps diários vai até pelo menos 31 de março (mais três meses). Em ocasiões anteriores, sempre que precisou estender o programa de swaps, o BC havia anunciado um período adicional de seis meses.
Na prática, ao estreitar o prazo do programa e reduzir o volume diário, a instituição vai preparando o mercado para o momento em que a “ração diária” será, definitivamente, cortada. Resta saber se os fatores de pressão altista para o dólar, que vêm de dentro e de fora do País, permitirão isso.