O delator do escândalo de corrupção na Fifa, Chuck Blazer, foi o informante do FBI durante o auge da preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 2014 e repassou para a Justiça norte-americana detalhes de como o Mundial estava sendo preparado e seus contratos, inclusive dando detalhes sobre alguns dos principais atores do processo.
O americano, que fechou um acordo com a Justiça do seu país para gravar e informar o que ocorria dentro da Fifa, era membro do Comitê Organizador da Copa do Mundo e, em 2012 e 2013, revelou à reportagem detalhes dos encontros que se referiam às escolhas de sedes do Mundial, desafios enfrentados pelos brasileiros e os embates entre a Fifa e CBF.
Epicentro do escândalo de corrupção que abalou o futebol, Blazer aceitou colaborar com a Justiça ainda em dezembro de 2011 na esperança de ver sua pena reduzida. Até maio de 2013, quando seria expulso da Fifa, o americano repassou informações para o FBI. No total, ele pode ter gravado potencialmente 18 reuniões do Comitê Executivo da Fifa, uma espécie de governo do futebol e que se reúne em Zurique em uma sala onde os sinais de celulares são bloqueados para evitar que informações sejam vazadas.
Blazer tinha, porém, um gravador introduzido em seu molho de chaves, que era sempre colocado sobre as mesas de reunião.
Seu acordo de delação premiada foi publicado na última segunda-feira, num acordo fechado em 25 de novembro de 2013. No dia seguinte, Blazer admitiria sua culpa em relação a dez crimes, entre eles evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Na esperança de reduzir sua pena que chegaria a 75 anos,o americano aceitou fornecer informação sobre os encontros que ia aos promotores federais.
Pelo acordo, Blazer concordava “em participar de forma secreta de atividades que tivessem a instrução específica dos agentes da Justiça”. Ele ainda se comprometia a não revelar seu status de colaborador. Entre dezembro de 2011 e 2013, ele assinou um total de 19 acordos com o governo americano para colaborar em coleta de dados.
Oficialmente, o documento não especifica quais informações Blazer coletou. Mas a reportagem foi informada que ela incluiu o esquema de corrupção nas Copas de 1998 e 2010, propinas pagas em dezenas de acordos comerciais e contratos de transmissão e de marketing para torneios oficiais. Em troca, a Justiça indicou que não iria recomendar uma pena, que poderia chegar a 75 anos de prisão.
As escutas começariam no final de 2011 e acabariam se concentrando principalmente na gestão de José Maria Marin e Marco Polo Del Nero no comando da CBF.
Entre 2012 e 2013, a preparação para a Copa viveria seus momentos mais tensos, com a definição do calendário e um embate sobre uma série de pontos: preços de ingressos, autorização para venda de bebidas, indefinições sobre a conclusão de estádios e a explosão de acordos comerciais.
Questionado se os detalhes sobre o Brasil foram repassados para os investigadores, uma fonte que trabalha com o processo nos Estados Unidos garantiu: “Tudo foi passado para nós. Esse era o acordo”.
Há duas semanas, o jornal O Estado de S. Paulo revelou com exclusividade que os contatos entre Ricardo Teixeira, ex-presidente do Comitê Organizador Local da Copa, e Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, estão sob exame do FBI.
Blazer sabia exatamente o que ocorria no Brasil. A reportagem esteve em diversas ocasiões com o americano no bar do hotel Baur au Lac e o delator chegou a contar detalhes dos embates entre a Fifa e a CBF, inclusive sobre a situação de cada estádio e o que estava em jogo.
Em diversas ocasiões, ele antecipou informações sobre o que a Fifa pretendia fazer com o Maracanã e outras sedes. Durante um encontro da Fifa em Budapeste, o americano ainda revelou à reportagem que havia oferecido um contrato a Ricardo Teixeira para que pudesse prestar consultoria na área de segurança para a Copa do Mundo.
PROPINAS – No acordo, Blazer admitiu que recebeu um total de US$ 11 milhões em propinas e que deixou de pagar impostos no valor de US$ 1,9 milhão apenas no que se refere ao suborno recebido pelos votos da Copa de 1998 e 2010.
Ele também participou de esquemas de vendas ilegais de ingressos em 1994 e 2002 e dezenas de contratos de vendas de direitos sobre eventos. Blazer também concordou em pagar multas avaliadas em US$ 2,5 milhões.