Variedades

Demanda faz surgir novos teatros

Na noite de 14 de novembro, Kleber Montanheiro abria, para o público, as portas da nova casa da Companhia da Revista, na Alameda Nothmann, nas proximidades do Bom Retiro. Antes sediada na Praça Roosevelt, a trupe deixou o reduto teatral paulistano, em parte, pela especulação imobiliária. “O preço já não condizia com o espaço. Agora pagamos pouco a mais por um lugar quatro vezes maior”, diz Montanheiro. “Os trabalhos artísticos que queríamos desenvolver já não cabiam mais lá.” O caso da Revista sintetiza um movimento atual da cidade: mesmo com a crise causada, em geral, pela especulação, novas casas de diversos estilos foram e vão ser abertas.

Um movimento recente que fez com que construtoras patrocinassem companhias de teatro possibilitou que a Revista alugasse o galpão de 400m² com, pelo menos, dois anos de estabilidade. O espaço foi totalmente reformado e decorado com itens que faziam parte da exposição sobre o cineasta Stanley Kubrick, que ocupou o Museu da Imagem e do Som e foi encerrada em janeiro. “Quando eles desmontaram, fomos lá com três caminhões e trouxemos tudo pra cá”, lembra Montanheiro, indicando que todas as paredes internas do novo teatro eram usadas na mostra, além de itens como a luminária da foto maior, que enfeitava a sala sobre o longa Dr. Fantástico (1964). Além de abrigar os espetáculos do grupo, o espaço deverá ser usado para ensaios e outros projetos, como cursos e uma mostra de dança contemporânea.

Eduardo Peixoto e Lucas Lentini, responsáveis pelo Armazém Cultural SP, que inaugurou no início de outubro, não tiveram a mesma sorte de Montanheiro para o patrocínio do espaço. Acreditando no sonho de Peixoto em manter um teatro, sua família, dona de um supermercado, resolveu bancar o aluguel do imóvel em Pinheiros por meio da empresa. Modesta, a casa tem um teatro com capacidade para cerca de 80 pessoas, um pátio e um pequeno bar. “Notamos que não existe um espaço cultural que ligue o teatro a outras artes e que funcione 24h”, diz Lentini. Com alguns testes bem sucedidos, a ideia está tomando corpo. Cobrando R$ 20 de ingresso, a dupla criou programações conectadas: peça de teatro seguida de show, coroado por uma festa sem hora para acabar.

Para o arquiteto de teatros José Carlos Serroni, a demanda justifica o surgimento de novos teatros. “São muitos espetáculos ao mesmo tempo”, diz. “Tem teatros que recebem quatro espetáculos no mesmo dia. Esse movimento é crescente: estamos recebendo casas, mais do que fechando.” A legislação seria outro fator de impulso. “Os shoppings são obrigados a ter teatros e as instituições de ensino têm facilidades, como o direito a mais área construída, quando optam por levantar um teatro.”

É o caso da Universidade de Mogi das Cruzes, que fez o teatro UMC em seu campus na Vila Leopoldina, mas o deixou inacabado e sem uso. Uma parceria com a produtora Mov fez com que a casa de 290 lugares fosse inaugurada no início de novembro. “Não temos nenhuma obrigação em atrelar nossa agenda à universidade, mas a curadoria leva em conta os habitantes do entorno”, diz Nelson Martins, um dos responsáveis pelo espaço. Segundo ele, a programação deve ser variada, mas a produção tem tido facilidade maior em fechar temporadas de peças infantis.
Finalizado, mas pouco utilizado, o Espaço Cultural NPC, no Cambuci, que funcionou por cerca de dez anos com interrupções, reabriu no início de dezembro como Espaço Fora. A nova fase do local surgiu com a parceria da Cia. NPC com a Teatro Kaus Cia. Experimental. A ideia da curadoria é ocupar o local com espetáculos de ambos os coletivos, abrindo o palco para peças que dialoguem com suas linguagens alternativas.

Além desses, o Studio Verona, galpão que integra a Arena Verona, em Santana, inaugurou no início de novembro com programação musical, mas com possibilidade de abrigar espetáculos teatrais. Para o futuro – além dos já anunciados Teatro Santander (Shopping JK Iguatemi) e Teatro do Shopping Villa-Lobos – um teatro com capacidade de 1.600 lugares na Universidade de São Paulo (USP), mais voltado para a música erudita, uma casa no Bom Retiro é projetada pelo Colégio Renascença, um pequeno espaço na Faculdade de Medicina da USP, um teatro de porte médio da Porto Seguro no Bom Retiro e a sala da São Paulo Cia. de Dança, que enfrenta processo burocrático para ser construída no local onde ficava antiga rodoviária, na região da Luz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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