As 800 demissões na Volkswagen no ABC paulista, berço do PT, mobilizaram nesta terça-feira, 6, o núcleo central do governo. Os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, foram chamados ao Palácio do Planalto para discutir o problema com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro-chefe da Secretaria Geral, Miguel Rossetto, responsável pelo contato com os movimentos sociais e centrais sindicais.
Pouco antes, o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, havia recebido o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, para ouvir um relato sobre as demissões.
No que promete ser o primeiro grande teste da nova diretriz de política econômica, o governo não pretende adotar medidas de socorro. “Em princípio, não”, disse Armando Monteiro. “Não para a realidade que está posta.”
Em outra frente, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, telefonou para o presidente da Volkswagen, Thomas Schmall, para oferecer a intermediação do governo nas negociações entre empresa e sindicato. Nas reuniões no Planalto, Levy e Barbosa insistiram sobre a importância de o governo não recuar da decisão de elevar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro.
Para a equipe econômica, este é um novo momento, de ajustes, em que é preciso que sejam feitos sacrifícios. Eles ponderaram que a indústria automobilística poderia contribuir com sua parte, depois de terem sido beneficiadas por tanto tempo com e reduções de impostos.
Desde a crise de 2008, e até janeiro de 2014, o governo abriu mão de arrecadar R$ 12,3 bilhões em IPI das montadoras.
O entendimento no governo é que as montadoras passam por dificuldades, assim como o restante da indústria. “É uma conjuntura própria das flutuações em todos os mercados”, disse Monteiro. Ele observou que outras empresas também têm feito ajuste em seus quadros – porém, com menor repercussão política do que a vista no setor automobilístico.
Mas, segundo Monteiro, a Anfavea não pediu ajuda. A conversa com Moan restringiu-se a uma explicação sobre por que a Volks realizou as demissões e uma avaliação que essa não é uma tendência generalizada no setor. “Não há nenhuma posição de buscar socorro, nem medida salvadora”, disse.
Haverá, porém, pressões políticas. “Naturalmente a preservação do emprego, principalmente de empresas que tiveram algum tipo desoneração ou benefício, é uma coisa que vamos defender”, afirmou o presidente nacional do PT, Rui Falcão, no Palácio do Planalto. Ele ressalvou não conhecer a extensão e as razões dos desligamentos.
Segundo o relato de Moan a Monteiro, a Volks vinha, desde meados do ano passado, negociando um Plano de Demissão Voluntária (PDV) para 2.100 funcionários. Queria, também, não conceder reajustes em 2015 e 2016, mas pagar apenas um abono.
A proposta foi rejeitada pelo sindicato. Por isso, 800 dos 2.000 funcionários que retornaram do período de lay-off receberam uma carta na qual são informados de sua demissão a partir de 6 de fevereiro. “Mas há flexibilidade da empresa em retomar as negociações”, disse Monteiro.
Essa foi também a avaliação de Manoel Dias. Ele afirmou que continuará trabalhado na mediação e considera ser possível um bom termo.”Os dois lados demonstraram a intenção de dialogar e encontrar uma saída para que não aconteçam as demissões. Acredito que mantendo esse diálogo, essa disposição de ambas as partes, poderemos encontrar uma solução”, afirmou.
Colaboraram Murilo Rodrigues Alves e Rafael Moraes Moura