A situação na STT beira o caos. A afirmação é de agentes de fiscalização da STT em reportagem publicada nesta terça-feira pelo jornal Folha do Ponto. Eles relatam problemas estruturais, falta de condições de trabalho, que acabam desencadeando fiscalização precária ao sistema de transportes e, consequentemente, falhas graves no atendimento à população.
Atualmente, a STT conta apenas com 26 fiscais, divididos em três turnos (10 pela manhã, nove à tarde e sete à noite) para cuidar de todo o sistema de transportes na cidade, incluindo ônibus, microônibus, vans escolares e táxis. Há em uso só quatro viaturas, mesmo assim em condições precárias, como falta de equipamentos de sinalização e segurança. O pátio do Departamento de Transportes Internos (DTI) está repleto de veículos oficiais abandonados, por falta de peças e manugenção. Não há fornecimento de uniformes aos agentes. Muitos deles são obrigados a comprar calçados com o próprio dinheiro.
Segundo os agentes, há problemas graves no transporte em decorrência da falta de fiscalização. O número de microônibus no sistema alimentador, que liga os bairros aos terminas urbanos, é insuficiente para a demanda. A situação é mais grave nas linhas que saem dos terminais Pimentas e São João para os bairros da região. Um exemplo claro da saturação é a linha 490, que liga o Santa Paula ao Terminal São João. São 19 micros que saem um atrás do outro e, mesmo assim, os pontos estão sempre lotados. Esta linha deveria utilizar ônibus convencionais, mas as empresas não teriam interesse em colocar seus veículos nos bairros.
O problema se agrava quando – sem fiscalização – os permissionários deixam de cumprir a jornada completa de trabalho, já que são pagos por dia e viagens realizadas e não por número de passageiros transportados. Muitos, segundo os fiscais, fazem apenas uma viagem no dia mas registram ter realizado várias. Não é raro acontecer de, em momentos mais críticos, os fiscais irem até as casas dos permissionários para chamá-los a fim de cumprir as jornadas e atender a população. "Cansei de bater na porta de micreiro pedindo para fazer seu trabalho", relatou uma das fontes.
Fora estes problemas, os fiscais – quando tentam realizar o trabalho – esbarram nos problemas jurídicos que envolvem as licitações para a escolha dos micreiros. Segundo contaram, foram realizadas duas, mas que caíram na Justiça. Ou seja, se eles levarem a lei ao pé da letra, todos os micros são clandestinos, já que não há regulamentação dentro do sistema. Há ainda a falta de pagamento. Muitos alegam que não vão cumprir as jornadas de trabalho porque os pagamentos estão atrasados e eles, em alguns casos, não conseguem fazer a devida manutenção dos veículos. "Não temos autoridade alguma para fiscalizar", revelou.
Vias esburacadas fazem micros quebrarem mais
Alguns microônibus rodam sem as mínimas condições, principalmente aqueles que circulam em bairros mais distantes, que têm ruas esburacadas. Há vias quase intransitáveis que não recebem os serviços de manutenção por parte da administração municipal, como no Marmelo e Água Azul, só para citar dois exemplos. Assim, não é raro ver microônibus com sérios problemas de suspensão. Segundo um dos agentes, recentemente um veículo foi apreendido por um oficial de Justiça em pleno Terminal dos Pimentas, devido ao atraso nos pagamentos das prestações. "A situação é lamentável".
Transportes escolares
Os agentes denunciam haver em curso dentro da STT um processo para tirar das ruas vans escolares já que o secretário Atílio Pereira teria interesse em colocar carros de uma determinada empresa para realizar esse tipo de serviço. Há muitas vans em situação irregular, apenas com a faixa Escolar escrita nas laterais, mas sem as devidas condições. Tirar esses veículos das ruas seria fácil caso houvesse estrutura para fiscalização. Mas, mesmo com as condições precárias de trabalho, cada agente tem uma meta: apreender pelo menos duas peruas escolares por dia.
Articulados de fachada
Os dois ônibus aticulados que foram apresentados com pompa pela STT logo que a crise com os perueiros foi deflagrada não passam de jogo de cena, segundo os fiscais. Um dos veículos, que está a serviço da Campo dos Ouros, faz a linha entre o Terminal Pimentas e o Centro, apenas duas vezes pela manhã e duas à tarde.
O outro, pela Vila Galvão, que faz do São João até o Centro, segue a mesma determinação: duas viagens de manhã e duas à tarde, só para aparecer para a população. "Mas já cansamos de ver esses coletivos travarem o trânsito em ruas mais apertadas. Eles não servem para a cidade. Só poderiam circular em avenidas ou corredores, coisas que não temos", afirmou.
Sem rumo
Como passam quase o dia inteiro nas ruas e estão ligados diretamente ao tema trânsito, os fiscais enxergam uma série de problemas nas vias da cidade, desde falta de sinalização, ruas esburacadas e erros viários. Desta forma, é comum eles encaminharem algumas demandas para os setores responsáveis da administração a fim de buscar soluções rápidas.
No entanto, os requerimentos abertos na própria STT ficam engavetados. Os fiscais apresentaram uma série de solicitações que foram encaminhadas ao longo de 2012 à Pasta, como sugestões para melhor o tráfego em determinadas vias e até mesmo para melhorar a segurança para motoristas e pedestres. Nada foi feito até hoje. "Parece que eles não se importam com os problemas da cidade. A cabeça deles está apenas em ver onde podem faturar mais".