O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai participar "diretamente" das campanhas municipais do PT em 2024, mas há "campos minados" nesse processo. A declaração foi dada pelo senador Humberto Costa (PT-PE), coordenador do grupo de trabalho eleitoral do partido – responsável pela organização da legenda para as eleições do ano que vem -, em entrevista ao Papo com Editor, programa do <i>Estadão/Broadcast</i>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
O senador se refere a lugares onde forças políticas aliadas de Lula em nível federal disputarão as prefeituras municipais contra o PT. "Naqueles municípios onde a polarização claramente seja entre a extrema-direita e o conjunto de forças de centro e de centro-esquerda, acredito que ele vai estar presente", disse Humberto Costa. "Em outros lugares, esse campo é um pouco minado. Eu acho que o partido vai participar fortemente, os ministros que são do PT ou do campo que se organiza ali, mas talvez o presidente deixe para se manifestar num segundo turno."
Segundo Costa, haverá uma reunião do grupo de trabalho com o presidente da República em dezembro ou no começo do ano que vem para discutir como será a participação do chefe do governo federal nas campanhas. "Onde houver um grau de unidade dentro do partido, ou juntamente com a federação e os outros partidos do campo da centro-esquerda, eu tenho a convicção de que esse eventual candidato ou candidata terá um tratamento diferenciado do presidente Lula antes e durante a campanha. A nossa discussão deverá ser exatamente que lugares serão esses", declarou o senador.
<b>Salvador</b>
Um possível exemplo desse raciocínio é a disputa pela prefeitura municipal de Salvador. "Se for o Geraldinho (Geraldo Jr., do MDB, vice-governador da Bahia), o MDB estaria conosco, ou nós estaríamos com o MDB, e eu acredito que Lula participaria diretamente dessa campanha. Se tiver duas candidaturas, a do PT e uma do MDB, eu acredito que aí será mais difícil uma participação (de Lula) no primeiro turno", afirmou o senador.
Humberto Costa disse que o principal objetivo do partido é ter resultados melhores no ano que vem do que os obtidos na última disputa pelas prefeituras. "Nossa meta genérica é termos um desempenho muito melhor do que aquele que tivemos em 2020, que foi, de certa forma, o fundo do poço em termos de participação eleitoral do PT em eleições municipais", declarou.
<b>Capitais</b>
O senador afirmou que o partido deverá ter até 12 ou 13 candidatos a prefeito em capitais, dependendo de como evoluírem as conversas com as legendas aliadas. São Paulo é um dos casos mais claros. "Vamos estar com o Boulos (PSOL). Acho que o PT vai estar na vice e o presidente vai participar ativamente", afirma. Algo semelhante tende a acontecer em Porto Alegre, onde há a tendência de uma candidatura juntando o PT e a federação com PV e PCdoB e outras forças, segundo Costa.
Já no Rio de Janeiro há dúvidas. "A tendência é um apoio ao Eduardo Paes (PSD), mas condicionado ao PT ter uma participação na composição da chapa."
Belo Horizonte traz uma preocupação com os partidos aliados, que tende a adiar uma eventual entrada do presidente na campanha. "Temos um candidato lançado que é o deputado Rogério Correia (PT)", observou. "Lá nós temos realmente uma conjugação de forças que estão no governo federal. Por exemplo, o PSD, do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, deve ter uma candidatura, talvez a reeleição do atual prefeito. Talvez nesse caso o presidente só se manifeste no segundo turno."
Em Curitiba e Florianópolis, Costa diz ser provável que se construa uma candidatura de unidade fora do PT. "Dependendo de quem for esse candidato, de que partido for, ele estará presente."
<b>Bolsonarismo</b>
Humberto Costa ainda disse que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita decisões monocráticas do Supremo Tribunal Federal (STF), aprovada pelo Senado, foi uma demonstração de força do bolsonarismo na Casa. O texto passou no Senado com 52 votos a favor e 18 contra na quarta-feira, 22.
"Algumas pessoas, algumas forças políticas aqui caíram no canto da sereia da extrema-direita, que quer tão somente prolongar um processo de conflito que eles criaram e alimentaram ao longo do governo passado", declarou. Questionado se falava do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que colocou a proposta em pauta, Costa preferiu não dizer a quem se referia.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>