A deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC) recebeu reembolso da Câmara por duas diárias de um hotel em Xanxerê, em Santa Catarina, onde esteve nos dias 1º e 2 de setembro. No sábado, 2, ela compareceu ao casamento da colega de bancada, a também deputada federal Caroline de Toni (PL-SC), na cidade. O valor que recebeu de volta da Casa foi de R$ 780.
Procurada pelo <b>Estadão</b>, Zanatta disse que "tem direito ao uso da cota" com base no ato 43/2009, da Mesa Diretora da Câmara. O documento prevê verbas para "custear gastos exclusivamente vinculados ao exercício da atividade parlamentar", o que não incluiria a presença em uma casamento. No entanto, a deputada afirma que, além do casamento da correligionária, participou também de encontros com "lideranças e apoiadores locais".
No Instagram, Zanatta compartilhou uma foto com os noivos, Caroline de Toni e Matheus Bortoluzzi, empresário do agronegócio, com produção de sementes e cereais, e filho do ex-prefeito de Xanxerê, Bruno Bortoluzzi. "Que Deus abençoe essa união. Felicidades ao casal e obrigada pelo convite", escreveu.
Segundo agenda disponibilizada pela assessoria da deputada, a passagem por Xanxerê fez parte de um roteiro pelo oeste de Santa Catarina, com presença também nos municípios de Chapecó e Coronel Freitas e reuniões com apoiadores e lideranças locais, entrevistas e visita a clubes de tiro. Entre as autoridades encontradas foram estavam um vereador de Coronel Freitas e o presidente da Câmara de Chapecó, Fernando Cordeiro (PSC). Especificamente em Xanxerê, estão descritos uma entrevista a uma rádio local e um encontro com prefeitos da região, no sábado, 2.
A assessoria da deputada também encaminhou imagens retratando momentos do roteiro da parlamentar nos três municípios. Em Xanxerê, as fotos mostram um café com apoiadoras que fizeram parte da campanha dela para o cargo. O <b>Estadão</b> perguntou sobre registros do encontro com prefeitos, que estava previsto para as 9h do sábado, mas não obteve retorno. Depois desse ato, as únicas atividades registradas no roteiro foram um almoço, a preparação para o casamento e a própria cerimônia, onde foi acompanhada pelo marido, Guilherme Colombo.
A assessoria ainda enviou um vídeo das redes sociais da parlamentar com um almoço com apoiadores, que, segundo informou, teria ocorrido em Xanxerê no domingo, 3, para justificar a segunda diária paga no hotel.
Conforme informações presentes na nota fiscal disponibilizada no Portal da Transparência da Câmara dos Deputados, as diárias no hotel custaram R$ 624, pagos à vista, com um desconto de R$ 156. A nota indica, ainda, um "valor bruto" de R$ 780 (sem o desconto), que aparece no Portal da Transparência como o valor devolvido à parlamentar.
Questionada, a deputada afirmou não saber o motivo dessa diferença de valores e recomendou ao <b>Estadão</b> que procurasse a Câmara dos Deputados para entender a situação. Segundo ela, a nota estava correta. Ela ainda disse que buscaria o valor pago em sua fatura do cartão para confirmar à reportagem, mas até esta publicação, ainda não respondeu.
Procurada, a Câmara dos Deputados disse que vai apurar a disparidade nos valores e acrescentou que não faz análise de mérito dos gastos para fazer os reembolsos por meio da cota parlamentar.
"Conforme estabelece o Ato da Mesa 43/2009, que normatiza o uso da cota, o parlamentar assume inteira responsabilidade pela nota fiscal que apresenta. Cabe à Câmara, no âmbito administrativo, verificar os gastos apenas quanto à regularidade fiscal e contábil da documentação comprobatória", disse a Casa por meio de nota.
<b> Usei, uso e usarei corretamente cada centavo disponível para o exercício do meu mandato </b>
Questionada pelo <b>Estadão</b>, a deputada enviou nota à reportagem, com o título "usei, uso e usarei corretamente cada centavo disponível para o exercício do meu mandato".
<i>Em agenda pelo oeste de Santa Catarina, com lideranças e apoiadores locais, as despesas foram pagas conforme determina o ato 43/2009, da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, válido e disponível igualmente para os deputados democraticamente eleitos.
Sou uma parlamentar eleita, tenho direito ao uso da cota. Ao contrário da primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, que, sem mandato nem direito a verbas indenizatórias regidas pela lei, utilizou dinheiro público para atender a compromissos no lugar do vice-presidente, Geraldo Alckmin. Enviei um requerimento de informação ao governo federal, que, até o momento, não respondeu aos meus questionamentos.
Não aceitarei críticas ao correto exercício do meu mandato e continuarei utilizando todos os recursos inerentes ao desenvolvimento da minha atividade parlamentar.</i>